Levantamento pedido pela CNA ao Ibope mostra que 47,7% dos beneficiados não produzem o suficiente para a própria família. MST e Incra afirmam que amostragem é insuficiente para conclusões; instituto rebateu com números que apontam direção contrária
A CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) apresentou nesta terça (13/10) uma pesquisa encomendada ao Ibope que mostra que 47,7% das propriedades em assentamentos rurais consolidados não produzem nem o suficiente para a família e que 75% dos assentados não têm um dos principais créditos rurais, o Pronaf.
O Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) e o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) disseram que a amostra da pesquisa é malfeita e insuficiente para tirar conclusões. O estudo foi divulgado uma semana após a destruição, por integrantes do MST, de um laranjal no interior de São Paulo.
O Ibope fez mil entrevistas em nove assentamentos em nove Estados (BA, GO, MA, MG, MT, PA, PE, SP e TO). A margem de erro é de três pontos percentuais. Os ouvidos representam 0,1% das 920.861 famílias assentadas, diz o Incra. A pesquisa mostra ainda que 72,3% das propriedades não geram renda com a produção e que 37% das famílias têm renda de até um salário mínimo. Como a média é de 4,3 pessoas por família, o dado mostra que a situação de boa parte dos assentados é de extrema pobreza, diz Marcelo Garcia, secretário-executivo do Instituto CNA.
Ainda segundo a pesquisa, 46% dos assentados disseram ter comprado a terra de terceiros. A CNA não soube dizer, porém, se a venda era regular. A qualificação aparece como baixa: 83% dos entrevistados afirmaram nunca ter feito um curso de qualificação profissional. São analfabetos 21% dos chefes de família, e outros 47% estudaram apenas até a 4ª série do Ensino Fundamental.
Para rebater a pesquisa, o presidente do Incra, Rolf Hackbart, apresentou outros dados: R$ 4 bilhões em créditos para instalação desde 2003, levantamento de 2004 que mostra que menos de 10% das famílias venderam a terra ilegalmente e investimento de R$ 50 milhões em educação em 2008.)
(Por Johanna Nublat, Folha de S. Paulo, 14/10/2009)