Prefeitura alega que objetivo é reduzir barulho, mas críticos reclamam de criação de muros
A prefeitura do Rio anunciou nesta segunda (12/10) que pretende construir o que está chamando de "barreiras acústicas e de proteção" nas principais vias expressas da cidade. Serão módulos feitos à base de aço, concreto e policarbonato, com 38 metros de comprimentos por 3 de altura. Apesar da aparência, a administração municipal evitou chamar as instalações de muro. Segundo o prefeito Eduardo Paes, o objetivo é reduzir o barulho das vias em áreas residenciais.
As obras devem começar em novembro. As barreiras serão erguidas na Linha Amarela, Linha Vermelha e Avenida Brasil. As três vias passam por favelas, serão muito usadas durante a Olimpíada de 2016 e têm episódios recorrentes de violência. O prefeito diz que as barreiras não terão envolvimento com segurança, pois não serão usados materiais de blindagem.
Para o sociólogo Ignácio Cano, pesquisador do Laboratório de Análise da Violência da Universidade do Estado (Uerj), será preciso esperar para saber a verdadeira intenção do projeto. "Com os materiais que eles estão anunciando, não me parece que será apenas uma barreira acústica. Essa mesma administração já usou o meio ambiente para justificar a construção de muros ao redor de algumas comunidades carentes."
Cano refere-se ao polêmico projeto do governo do Estado, em parceria com a prefeitura do Rio, de criar muros em torno de 12 favelas da zona sul - área rica da cidade. A justificativa oficial é ambiental. Os muros serviriam para conter a expansão das comunidades e preservar o meio ambiente. "Essa questão de barulho pode estar apenas servindo de desculpa para se construir muros na cidade", afirmou a socióloga Edna del Pomo, coordenadora do Núcleo de Estudos em Criminologia e Direitos Humanos da Universidade Federal Fluminense (UFF).
A medida divide os moradores da Abolição, zona norte, um dos bairros cortados pela Linha Amarela. Para a advogada Bárbara Pires da Silva, de 40 anos, trata-se de preconceito. "Aqui vão passar as principais comitivas olímpicas. Eles querem esconder essa parte da cidade que está abandonada", disse.
As irmãs Jacira Nunes Martins, de 75 anos, e Dalquira Custódia, de 74, consideram positiva a construção das barreiras. "É válido também para a segurança dos carros que passam por aqui", aponta Dalquira. "Mas deveriam priorizar outras coisas, como o esgoto que corre a céu aberto aqui no bairro", rebateu Jacira.
(Por Alfredo Junqueira, O Estado de S. Paulo, 13/10/2009)