Agência Internacional de Energia quer usar a crise econômica como trampolim para um novo modelo energético global, e sugere a destinação de US$ 10 trilhões até 2030 para realizar as transformações que o setor necessita
“Energia está no coração do problema, por isso deve ser o centro da solução”, resumiu o diretor-executivo da Agência Internacional de Energia (AIE), Nobuo Tanaka, durante o lançamento de um relatório que antecipa as conclusões do World Energy Outlook (WEO) 2009, o principal estudo do setor.
O documento, divulgado durante a rodada de negociações do clima em Bancoc, na Tailândia, demonstra que a crise econômica mundial será responsável por uma redução de 3% das emissões de 2009, e que isso representa uma oportunidade excepcional para o fortalecimento de um novo modelo energético que seja mais amigável ao meio ambiente.
“Nós temos a chance de realizar verdadeiros progressos em direção a um futuro de energias limpas, mas só conseguiremos isso se as políticas certas forem colocadas em prática. Por isso o sucesso do processo de negociações climáticas é crucial”, afirmou Tanaka. Segundo a AIE, serão precisos US$ 10 trilhões em investimentos entre 2010 a 2030 para manter a concentração de gases do efeito estufa na atmosfera em 450 partes por milhão (ppm), que segundo a agência, seria o suficiente para manter o aquecimento global em 2°C.
Isto significa que 0,5% do PIB global em 2020 deveria ter este fim, subindo para 1,1% do PIB em 2030. Este valor poderia ser minimizado através de medidas de eficiência energética nas indústrias, transportes e construções, que renderiam até US 8,6 trilhões em economia. “O nosso cenário de 450 ppm é o caminho para o crescimento sustentável. Mas temos que agir agora, cada ano de atraso soma mais US$ 500 bilhões aos investimentos que serão necessários para o setor energético”, explicou Tanaka.
Para não extrapolar esse patamar, o pico de utilização dos combustíveis fósseis deve se dar antes de 2020, e as emissões provenientes da geração de energia não devem passar de 6% a mais em 2020 do que em 2007. “O principal desafio é garantir que os recursos sejam utilizados para a transformação energética, com um apoio substancial para os países em desenvolvimento”, comentou Tanaka.
Segundo a AIE, o grupo de países emergentes, que inclui economias como Rússia, China, Índia e Brasil, precisa que suas emissões parem de aumentar a partir de 2020 para que as mudanças climáticas não tenham graves conseqüências. Para isso, o ideal é a transferência de recursos no valor de US$ 200 bilhões até 2020 para estes países. Dinheiro que seria investido em energias limpas, medidas de eficiência e em uma nova geração de veículos híbridos e elétricos.
O conteúdo completo do WEO 2009 será publicado no dia 10 de novembro, em Londres, e detalhará as transformações energéticas que cada país chave, como EUA, Rússia, China e Brasil, terão que realizar para se colocar na trajetória de 450 ppm. Também descreverá as tendências no uso energético e de emissões, explicando implicações das atuais políticas e levando em conta a crise econômica global.
“A mensagem é simples: se o mundo continuar no atual caminho de políticas energéticas e políticas, as conseqüências das mudanças climáticas serão severas”, concluiu Tanaka.
(Por Fabiano Ávila, CarbonoBrasil, 07/10/2009)