Antes da chegada dos técnicos do Incra, Zero Hora circulou pela fazenda e descobriu pelo menos três tipos de ilegalidades, envolvendo personagens com histórias diferentes:
A venda com contratos de gaveta
Em 29 de outubro de 1985, Antônio Antunes, o Mato Grosso, a mulher e os dois filhos rumavam para a invasão da Fazenda Annoni. Naquela madrugada, outras 1,5 mil famílias, de vários cantos do Estado, invadiram a Annoni sob a coordenação do MST. A família Antunes foi uma das 412 assentadas, em lotes de 15 hectares, na Annoni.
Faltando algumas semanas para completar 24 anos da chegada de Antunes à fazenda, sentado na frente de uma casa em construção em Pontão, ele disse que vendeu por 6 mil sacas de soja o seu lote para o amigo Flávio Sinigaglia, 43 anos. Diz que não tinha opção por estar doente e os seus filhos não terem demonstrado interesse de continuar na agricultura. Sinigaglia confirma que comprou e está pagando em três prestações o lote. Diz que plantou a vida toda em terras alheias, pagando ao dono da área. Agora, resolveu arriscar a ter a sua propriedade. Os dois fizeram um contrato de gaveta.
A venda para o vizinho
A ilegalidade mais comum é a compra do lote pelo vizinho, uma prática que se iniciou nos anos 80. O vice-prefeito do município de Pontão, Rudimar Antonio Banaletti (PTB), 37 anos, defendeu a ideia de que é normal, dentro do processo econômico, que o asssentado tenha ambição de progredir expandindo a sua atividade.
– Nestas duas décadas e pouco de assentamento, os técnicos do Incra nunca se interessaram em saber o que acontecia aqui. Neste tempo, sobreviveram economicamente os mais capazes. Toda esta gente não pode simplesmente perder o seu investimento – discursou Banaletti.
O colono Alberi Braatez, 39 anos, diz que há vários compradores que simplesmente fecharam negócio afiançados pelo “fio do bigode”, sem qualquer espécie de documento.
A venda para granjeiros
A situação é bem diferente de um grupo bem mais restrito de compradores: os granjeiros. Proprietários médios, eles vivem ao redor do assentamento, como é o caso de Plinio Aime, 51 anos, dono de 300 hectares. Os técnicos do Incra têm informações de que ele comprou três lotes de assentados da Annoni. ZH conversou com Aime, que disse estar tranquilo. Afirma que comprou 74 hectares por 41 mil sacas de soja de uma empresa, que nada tem a ver com os assentados.
– O que aconteceu é que prestei serviços, com o meu maquinário, para os assentados, tenho tudo documentado. Creio que foi daí que veio a confusão. Mas estou tranquilo – afirmou.
(Zero Hora, 11/10/2009)