O presidente Luiz Inácio Lula da Silva classificou nesta sexta-feira (09/10) de "vandalismo" a destruição de pés de laranja por integrantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) numa fazenda da Cutrale em Iaras (SP) e disse que os sem-terra poderão sofrer punições.
"Todo mundo sabe que eu sou defensor das lutas sociais, das lutas que o povo manifesta pelo Brasil inteiro. Agora, entre uma manifestação reivindicando alguma coisa e aquela cena de vandalismo na TV, obviamente que eu não posso concordar com aquilo", disse após participar de uma solenidade com o presidente da África do Sul, Jacob Zuma, em Brasília.
O MST alega que a fabricante de suco de laranja ocupa ilegalmente terras da União. Para Lula, porém, "não tem explicação para a sociedade você derrubar tantos pés de laranja apenas para demonstrar que você está reivindicando. Você poderia demonstrar sem precisar fazer destruição com máquinas".
Antigos aliados, Lula e o MST se distanciaram nos últimos anos. Os sem-terra acusam o governo de privilegiar o agronegócio e negligenciar a reforma agrária. Lula sinalizou que não pretende contemporizar com o movimento: "Acho que todo mundo no Brasil já aprendeu que este país tem leis, tem Constituição. Quem estiver dentro da lei pode fazer qualquer coisa. Quem não estiver pagará um preço por fazer".
A ação do MST levou integrantes da bancada ruralista no Congresso a recolher assinaturas para criar uma CPI para investigar as contas do movimento. O pedido deve ser apresentado na semana que vem, já com assinaturas suficientes. Antes de Lula, o ministro Guilherme Cassel (Desenvolvimento Agrário) chamou de "grotesca" a destruição dos pés de laranja, e Reinhold Stephanes (Agricultura) cobrou uma ação mais agressiva do governo federal contra os sem-terra.
Ontem, o ministro Tarso Genro (Justiça) comparou os sem-terra aos integrantes do grupo Opportunity, de Daniel Dantas: "A lei é feita para todos de maneira indistinta. É feita para o pessoal do Opportunity, para pessoas de classe média e para camponeses e operários que cometem ações ilegais que violentam o direito dos outros".
Tarso também acusou o MST de "vandalismo": "Não se trata de falar do movimento porque incriminação in abstrata [imputar ao coletivo o crime cometido por alguém] não é prevista no direito brasileiro. Mas as pessoas que cometeram aquilo, seja em nome do MST ou de quem for, têm de responder, têm de ressarcir e têm de pagar".
(Por Fabio Zanini, com colaboração de Graciliano Rocha, Folha de S. Paulo, 10/10/2009)