As três empresas são controladas pelo fundo de pensão do BB; consórcio terá 51% do projeto, e Eletrobrás, o restante. Usina será a terceira maior hidrelétrica do mundo; governo trabalha agora para estimular formação de um consórcio concorrente
Vale, CPFL e Neoenergia, controladas pela Previ e seus sócios, vão formar um consórcio para disputar o leilão da usina hidrelétrica de Belo Monte, afirmou nesta quinta (08/10) o presidente do fundo de pensão do Banco do Brasil, Sérgio Rosa. A mineradora e as duas empresas do setor elétrico serão líderes do consórcio, com 51% do capital. Os outros 49% virão da Eletrobrás ou de uma de suas subsidiárias (Furnas, Chesf ou Eletronorte).
O modelo repete o utilizado pelo governo nos leilões das usinas do rio Madeira, no qual as estatais entraram como posição minoritária em todos os consórcios. Localizada no Pará, a usina será licitada ainda neste ano, segundo previsão da estatal EPE (Empresa de Pesquisa Energética). Rosa disse que, neste momento, as empresas não negociam a entrada de mais nenhum grupo no consórcio. Ele negou que existam atualmente tratativas com a franco-belga Suez, responsável pela instalação de uma das usinas localizadas no rio Madeira.
O executivo não descartou, porém, uma nova rodada de negociações entre as empresas. A Suez já havia declarado sua intenção de entrar na disputa ao lado do consórcio formado por Vale, Neoenergia e CPFL. De sua parte, a Vale tem interesse em assegurar energia para seus projetos na área de minério de ferro, cobre e níquel na região Norte. Em Belo Monte, o governo permitirá a figura do autoprodutor, no caso a Vale, com até 20% da energia do consórcio. Para as outras duas, o investimento é a oportunidade de ampliar sua geração própria de energia.
Sociedade entre Previ, Banco do Brasil e a espanhola Iberdrola, a Neoenergia controla distribuidoras do Nordeste. Já a CPFL tem concessionárias em São Paulo e é controlada também pela Camargo Corrêa. A empreiteira é outra possível integrante do consórcio, diante do seu interesse em realizar a obra.
Para a Previ, o entendimento entre as suas três controladas evita um conflito de interesses e viabiliza o investimento em Belo Monte, que, depois de concluída, será a terceira maior hidrelétrica do mundo. "Ficamos numa situação muito confortável. Se elas estivessem em consórcios diferentes, teríamos de sair da sala", disse Joílson Ferreira, diretor de Participações da Previ.
Entraves
A maior incerteza sobre o projeto de Belo Monte é o valor da obra. Sob críticas do setor, a EPE estimou em R$ 16 bilhões o investimento necessário para o empreendimento. Antes, a própria Eletrobrás havia apontado um custo de R$ 20 bilhões. Já a CPFL indicara a necessidade de um aporte de R$ 25 bilhões. Potencial fornecedora de turbinas, a francesa Alstom fez outro cálculo: R$ 30 bilhões.
Atualmente, o que também emperra a definição da data do leilão é a obtenção de licença ambiental prévia da usina, uma das exigências para licitar o empreendimento. O governo quer a formação de pelo menos mais um consórcio.
(Por Pedro Soares, Folha de S. Paulo, 09/10/2009)