Africanos, com apoio de alguns europeus, demandam inclusão de atividade madeireira em acordo mundial sobre clima. Texto discutido na Tailândia abre brecha para substituir floresta nativa por matas plantadas e ainda ganhar créditos de carbono com isso
A extração de madeira e a conversão de florestas nativas em florestas plantadas poderá contar créditos como atividade de "redução de emissões por desmatamento", caso prevaleça um texto negociado em Bancoc sobre atividades florestais e clima -o chamado Redd.
O Redd foi provavelmente o tópico de negociação que mais avançou na reunião das Nações Unidas sobre mudança climática que acaba hoje na Tailândia. O texto prevê que os países zerem o desmatamento tropical em 2030, reduzindo a perda de florestas em 50% até 2020.
O documento, porém, deixa em aberto a possibilidade do chamado "manejo florestal sustentável" como atividade de Redd. Ou seja, caso venha a ser aprovada a participação do Redd no mercado de carbono, madeireiros poderão não só se beneficiar do corte de árvores como também vender créditos pela área que eles deixaram de desmatar. O Greenpeace chama o manejo florestal de "madeireiro escondido no Redd".
Uma versão alternativa, defendida pelo Brasil e pela Coalizão das Nações com Florestas Tropicais (que reúne 40 países), é o "manejo sustentável de florestas", que promove unidades de conservação e atividades de comunidades tradicionais.
A delegação brasileira em Bancoc também ficou irritada com a retirada do texto de negociação do Redd de uma frase que garantia a conservação de florestas nativas. Isso, em tese, torna possível ganhar dinheiro fazendo corte raso numa floresta primária na Amazônia ou na África, por exemplo, e plantando eucalipto ou pinus no lugar (já que as florestas plantadas, ao crescerem, retiram carbono da atmosfera).
Congo
A derrubada foi resultado de pressão do Congo, da República Democrática do Congo e de Camarões, que acham que, se não puderem converter parte de suas florestas, vão ter prejuízo.
O representante da República Democrática do Congo disse que incluir a salvaguarda equivalia a "enxotar todos estes países da sala [de negociações]". "A gente não quer a conversão das florestas", disse a principal negociadora de Redd do Brasil, Thelma Krug, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). O texto agora segue para Barcelona, onde acontece a última rodada de negociações antes de Copenhague. "Ficou escancarado que lá vai ser pau", disse Krug.
Segundo Tasso Azevedo, consultor do Ministério do Meio Ambiente, o mais importante do acordo sobre Redd foi a definição de que ele terá três fases. Na primeira, os países farão projetos-piloto e tratarão de adquirir capacidade de fiscalizar o desmatamento. Na segunda fase, as ações de Redd serão bancadas por fundos voluntários. E só numa terceira fase elas virariam metas nacionais, podendo valer créditos num mercado de carbono. "Um mercado de compensações facilita, porque os investidores já vão apoiar a fase dois, de olho na três", disse Azevedo.
Kevin Conrad, da Coalizão das Nações com Florestas Tropicais, disse que o Redd poderia começar a funcionar imediatamente. No entanto, para que isso acontecesse, seria necessário que os países ricos injetassem de 15 bilhões a 25 bilhões de euros para complementar as ações de redução de desmatamento nos países pobres entre os anos de 2010 e 2015.
(Por Claudio Angelo, Folha de S. Paulo, 08/10/2009)