A Noruega anunciou ontem (08/10) em Bancoc que cortará em 40% suas emissões de gases-estufa até 2020 em relação a 1990 se outros países desenvolvidos apresentarem metas ambiciosas. É a maior promessa já feita por uma nação industrializada. Mesmo que outros países não avancem, os noruegueses cortarão 30% das emissões. É mais do que o compromisso unilateral da União Europeia (20%) e o mesmo valor que a UE disse que atingiria se outros países adotassem boas metas.
O anúncio norueguês foi feito durante uma reunião plenária do encontro, que acaba hoje. Segundo a negociadora-chefe norueguesa, Hanne Bjurnstrom, trata-se de um "voto de confiança" na continuidade do processo de negociação rumo ao acordo do clima de Copenhague. Ele andou balançado em Bancoc devido à tentativa dos países ricos de mudar as regras do processo para acabar com o Protocolo de Kyoto.
Segundo um delegado, o que se seguiu ao anúncio da Noruega foi "a salva de palmas mais longa que se ouviu por aqui".
Liderança
Ambientalistas também aplaudiram. "Isso é que é liderança -e é um sinal claro para o presidente [dos EUA, Barack] Obama para elevar a meta [americana] de 4% [de redução até 2020]", declarou Martin Kaiser, do Greenpeace.
O anúncio não bastou, no entanto, para mover adiante as negociações. Principais problemas: metas de corte de emissões para 2020 para os países desenvolvidos e financiamento ao combate à mudança climática nos países pobres. O chamado Anexo 1 (países industrializados) vem resistindo a se comprometer com o financiamento. Países como os EUA querem saber quanto poderão abater das próprias emissões no mercado de carbono. Também afirmam que os países de renda média, como o Brasil, a China e a Indonésia, deveriam contribuir.
O movimento para matar o Protocolo de Kyoto parece ter se diluído. "Não há inclinação nenhuma em ter um novo texto", disse o secretário-executivo da Convenção do Clima, Yvo de Boer. Segundo ele, falar de abandonar Kyoto é "como querer escolher o papel antes de comprar o presente".
O G77 (grupo dos países em desenvolvimento), porém, expressou outra visão. "Uma tentativa de substituir Kyoto seria contraproducente. O que precisa acontecer é que a União Europeia, o Japão e a Austrália precisam se erguer para enfrentar o desafio, não descer ao fundo como os EUA", disse o representante do G77, o sudanês Lumumba Di-Aping. (CA)
(Folha de S. Paulo, 08/10/2009)