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celulose e papel aracruz/vcp/fibria
2009-10-09

A Fibria, empresa resultante da união da Aracruz Celulose e Votorantim Celulose e Papel (VCP), anunciou nesta quinta-feira a conclusão do contrato de venda da sua unidade no município de Guaíba para o grupo chileno CMPC. O contrato, assinado na quarta-feira, inclui os ativos florestais e industriais de celulose, papel e madeira que a Aracruz mantém no local. A aquisição foi realizada pelo valor de US$ 1,43 bilhão. No entanto, não estão incluídos nessa transação US$ 180 milhões referentes aos novos equipamentos e aos contratos com fornecedores que poderão ser utilizados pela Fibria em seus futuros projetos de expansão.

O contrato traz uma cláusula prejudicial aos interesses do Rio Grande do Sul. Em teleconferência, o diretor de Tesouraria e Relações com Investidores da Fibria, Marcos Grodetzky, revelou que o grupo chileno concorrente deverá aguardar até 2015 para ampliar a capacidade de produção da fábrica de celulose em Guaíba. A antecipação do cronograma pode resultar em um pagamento adicional de até US$ 250 milhões à Fibria. Com isso, o projeto de ampliação da capacidade para 1,8 milhões de toneladas anuais, um investimento de R$ 5 bilhões, fica congelado.

As negociações em torno da unidade Guaíba envolvem uma fábrica de celulose com capacidade de produção de aproximadamente 450 mil toneladas anuais, uma fábrica de papel com capacidade produtiva de cerca de 60 mil toneladas por ano e terrenos com área aproximada de 212 mil hectares (dos quais 32 mil hectares compreendem áreas arrendadas em parceria ou de fomento). O pagamento será feito em duas vezes. A primeira parcela, de US$ 1 bilhão, deverá ser paga até dia 15 de dezembro e a segunda, de US$ 430 milhões, até 30 de janeiro de 2010, corrigida à taxa de 7,5% ao ano.

“Foi um ótimo negócio, e em momento bastante oportuno”, afirmou Carlos Aguiar, presidente da Fibria. “Além de injetar no caixa da empresa recursos importantes para otimizar a nossa estrutura de capital, a venda possibilitará a retomada de projetos de alto retorno associados à nossa estratégia de crescimento sustentado”, complementou. O valor da transação representa cerca de 11,2 vezes o Ebtida - lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização - previsto para a Fibria em 2009.

Além disso, a operação permitirá o alongamento do perfil da dívida da empresa, criando condições para recuperar seu grau de investimento e viabilizar a antecipação de projetos. “Essa operação permitirá que a Fibria volte a fazer seus investimentos florestais já em 2010 e fabris em 2011, como por exemplo, Veracel II, conforme as condições do mercado à época”, disse o executivo.

O fechamento da operação está previsto para a segunda quinzena de dezembro, quando a CMPC tomará o controle da unidade, conforme informou o gerente-geral da empresa chilena, Arturo Mackenna Iñiguez, em nota oficial divulgada ao mercado nesta quinta-feira. A transação tornará a CMPC a terceira maior fabricante mundial de celulose de fibra curta, atrás da Fibria e da também chilena Arauco. “Essa aquisição constitui um passo importante na internacionalização da CMPC e na consolidação de seus negócios de celulose”, afirmou Mackenna Iñiguez.

Em entrevista ao Jornal do Comércio, publicada em 28 de setembro, o diretor de Operações Florestais e Tecnologia da Fibria, Walter Lídio Nunes, destacou que uma das principais razões para o interesse da CMPC em adquirir a unidade gaúcha da Fibria são as grandes potencialidades do mercado nacional. “No Chile, há limites na expansão da base florestal. Aqui, há imensidão a ser explorada. A produção brasileira é a mais competitiva no mundo”, destacou. Com a adição da capacidade da fábrica de celulose de Guaíba, a oferta mundial da CMPC se aproximará de 2,3 milhões de toneladas por ano, enquanto a capacidade da Fibria será reduzida para aproximadamente 5,4 milhões de toneladas anuais. A Arauco produz atualmente cerca de 3,2 milhões de toneladas por ano.

Em abril deste ano, a CMPC comprou as operações no Brasil da Melhoramentos, fabricante de papéis descartáveis, também conhecidos como tissue, como os guardanapos Lips, os papéis-toalha Kitchen e os lenços Softys e os papéis higiênicos Sublime.

Empresa minimiza área de papel e alimenta rumores de alienação de outros ativos
As teleconferências realizadas pela direção da Fibria com jornalistas, pela manhã, e com analistas e investidores, durante a tarde desta quinta-feira, apontam que a maior fabricante de celulose de mercado do mundo tem estratégias bastante distintas para os mercados de papel e celulose. Enquanto a produção do insumo é considerada prioritária, o mercado de papel é apontado como um segmento no qual a presença da Fibria é restrita.

A prioridade da Fibria para a próxima década é ampliar a atual capacidade de produção de celulose de 5,4 milhões (já descartada a produção de Guaíba) de toneladas anuais para 9 milhões de toneladas por ano. A produção de papel, por outro lado, deve se manter em pouco mais de 400 mil toneladas anuais, caso nenhum ativo seja vendido. “Gostamos do ativo, mas nosso plano de crescimento está focado em celulose”, limitou-se a dizer o diretor de Tesouraria e Relações com Investidores da companhia, Marcos Grodetzky, após ser perguntado sobre a presença da Fibria no mercado de papéis.

A posição da direção da Fibria em relação ao segmento alimenta os rumores de que a companhia poderia vender as duas fábricas de papel, instaladas em Piracicaba e Limeira, ambas em São Paulo. A unidade, instalada praticamente na divisa entre Limeira e Americana, é controlada pela Fibria e a concorrente Suzano Papel e Suzano e por isso é considerado o ativo mais propício a ser negociado. A venda da participação de 50% no Conpacel, no entanto, deve ser acompanhada da venda da fábrica de Piracicaba.

Apesar dos discursos de que os ativos de papel são atrativos, a decisão da Fibria de não traçar novos investimentos para o segmento pode ser encarado com desinteresse por parte da empresa. Outro indicativo de que a venda das fábricas de papel é provável é o fato de que o negócio ajudaria a reestruturar o perfil da dívida da Fibria e minimizaria a necessidade de a aumento de capital.

(Jornal do Comércio, 09/10/2009)


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