Insistir em fazer um animal voltar para o mar pode prejudicar todo o grupo
Segundo a neuroetologista, Darlene Keetten, do Instituto Oceanográfico Woods Hole, Massachusets, “só é possível determinar a causa de um encalhe de baleias em cerca de 50% dos casos,” e neles, às vezes, a causa é óbvia: choque com uma embarcação que deixa o animal com diversas fraturas e cortes profundos. “Eu costumo usar como analogia uma batida de carro: uma série de motivos pode provocar o choque, mas o resultado final é sempre o mesmo”.
No nordeste americano, pneumonia e trauma após tempestades, são causas comuns. No entanto, há outros tipos de trauma, incluindo o ataque por membros da mesma espécie. Poluentes produzidos pelo homem e toxinas naturais, como neurotoxinas produzidas por algas, estão provocando encalhes em massa. Anomalias do campo magnético e tsunamis também têm sido apontados como agravantes.
Os casos mais interessantes, no entanto, decorrem de doenças e fatores congênitos. “Encontramos nas baleias, parasitas e patologias muito mais graves que em animais domésticos e humanos. É surpreendente que os animais sobrevivam tanto tempo nessas condições,” comenta Keetten.
Sonares militares certamente contribuíram para encalhes recentes, mas nenhuma evidência garante que todas as baleias estão sendo afetadas por sonar. “É interessante que somente baleias de bico parecem ser afetadas e somente em alguns locais, o que poderá facilitar a solução do problema”, avalia a pesquisadora. Dessa forma, há casos em que não existe uma resposta única e clara. Técnicas de diagnóstico comuns em medicina humana como tomografia, ressonância magnética e estudos moleculares estão sendo usados para ajudar a entender melhor as causas dos encalhes.
Baleias encalhadas são relatadas desde a época de Aristóteles e, portanto, devem representar um fenômeno natural. Isso suscita uma questão: se você insistir em devolver um animal para o mar, poderá estar prejudicando toda a população. Se o animal está doente, que benefício você traz para o grupo? “Defendo a reabilitação dos animais, desde que isso seja possível”, afirma Keetten, mas o assunto é uma questão importante a ser discutida.
“Se uma atividade humana provoca um encalhe, precisamos conhecer suas causas — para tomar decisões sobre poluentes, rotas de embarcações e ruídos” comenta Keetten. Tudo isso contribui para piorar a saúde de espécies críticas como as baleias do nordeste americano, com menos de 400 espécimes restantes. O número de ocorrências está, de fato, aumentando, mas o que os pesquisadores estão tentando descobrir é se o aumento é generalizado ou se está ocorrendo somente em áreas especificas.
Às vezes, a única opção possível é sacrificar o animal — como aconteceu em maio, depois que um provável assassino de baleias deixou os animais na areia, perto da Cidade do Cabo, na África do Sul. Foi desafiador colocá-las de volta no mar, no inverno.
Apesar de grandes, num certo sentido são bastante frágeis. Por exemplo, não se deve permitir a entrada de areia ou água no orifício de respiração ao manipulá-las; o efeito é o mesmo que aspirar água pelo nariz. Se você recolocar o animal na água e ele nadar, mas ainda se sentir fraco e voltar duas ou três vezes para a praia, é preciso verificar se ele tem condições de sobreviver ou está sofrendo e nesse caso, um veterinário deve abreviar a morte animal.
(Scientific American Brasil, 06/10/2009)