Faxineira da Cutrale diz que foram levados DVD, TV, rádio, chuveiro e "até as lâmpadas'. Líderes do MST dizem que as acusações são "armação" contra o movimento e que eles só destruíram 3.000 pés de laranja da propriedade
Um cenário de destruição e depredação foi encontrado na fazenda de plantação de laranja da Cutrale em Iaras (271 km de São Paulo), desocupada nesta quarta (07/10) pelo MST após decisão de reintegração de posse da Justiça. Famílias de funcionários que moram na fazenda disseram que suas casas foram depredadas e tiveram objetos furtados.
Todos os 28 tratores da fazenda foram danificados (tiveram a bateria e outras peças retiradas), sendo que dois foram desmontados. Quatro caminhões também foram danificados. Os veículos foram pichados com a sigla MST. Defensivos agrícolas foram esparramados pelo chão e pelas paredes. Um computador foi queimado. "Levaram DVD, TV, rádio, roupas, calçados, inalador, ferro de passar roupa, o chuveiro e até as lâmpadas e as torneiras", declarou Silvana Fontes, 37, cozinheira e faxineira da sede da fazenda. A Folha foi à casa dela e viu que a janela apresentava sinais de arrombamento.
Silvana, casada há três meses com um vigilante da empresa, Adriano Feliciano, 30, disse que alguns dos objetos furtados eram presentes de casamento e nem sequer haviam sido tirados das caixas. "No dia em que invadiram, deram duas horas para sairmos de casa." A Folha entrou na fazenda após o MST deixar o local. Na frente da casa de um dos funcionários, um poste e um muro foram derrubados com tratores. Apenas uma das nove casas não foi arrombada. A sede da fazenda também tinha sinais de vandalismo, como pichações e lixo jogado pelo chão.
A Cutrale e as polícias Civil e Militar atribuem o vandalismo, o furto e a destruição ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), que havia invadido a área no último dia 28, com 250 famílias. Os líderes do MST disseram ontem que as acusações são "uma armação na tentativa de criminalizar o movimento".
Pelo menos 120 homens da PM, da Polícia Ambiental, da Polícia Rodoviária, do Corpo de Bombeiros e da Polícia Civil cercaram o local no início da manhã -a PM mobilizou um helicóptero para a operação. Os integrantes do MST deixaram o local sem resistir à ordem de reintegração de posse, determinada anteontem pela Justiça do Estado, atendendo a pedido da Cutrale. Eles saíram em três caminhões cedidos pela Cutrale e em carros particulares. Foram para assentamentos e casas de parentes.
No início da semana, os invasores destruíram parte da plantação de laranjas com um trator. Segundo o MST, foram 3.000 pés. Segundo a Cutrale, foram destruídos entre 7.000 e 10 mil pés. Os prejuízos com a ação podem chegar a R$ 3 milhões. A fazenda tem cerca de 1 milhão de pés de laranja.
Investigação
A Polícia Civil abriu inquérito. Segundo o delegado Jader Biazon, serão apurados os crimes de formação de bando ou quadrilha, esbulho possessório, dano e furto qualificado. O MST alegou que a área pertence à União e a Cutrale se apropriou indevidamente. O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de SP disse que a sociedade deve ficar "atenta aos desdobramentos dessas ações, porque elas comprometem a própria existência da democracia".
(Por Maurício Simionato, Folha de S. Paulo, 08/10/2009)