A tentativa dos países ricos de extinguir o Protocolo de Kyoto causou celeuma nesta quarta (07/10) nas negociações sobre aquecimento global das Nações Unidas em Bancoc, com alguns países em desenvolvimento ameaçando abandonar as conversas. O racha pode colocar em risco o próximo acordo do clima, que será negociado em Copenhague, em dezembro.
O estopim da confusão foi um documento apresentado ontem à tarde (madrugada em Brasília) no grupo de trabalho que discute redução de emissões até 2020. Segundo Kevin Conrad, negociador de Papua-Nova Guiné, o documento "borrava a distinção" entre países ricos (com metas obrigatórias de corte por Kyoto) e pobres (que devem apresentar só desvios na sua trajetória de aumento de emissões).
Os países do chamado Grupo dos 77 (que reúne o Terceiro Mundo) viram no documento um golpe contra Kyoto e ameaçaram abandonar a reunião. O Brasil não fez menção de interromper as discussões, mas o negociador-chefe do país, Luiz Alberto Figueiredo Machado, pediu para que a imprensa ganhasse acesso às reuniões, que em geral são fechadas.
O objetivo é expor o que os países pobres vêm chamando de "sabotagem" dos ricos, para acabar com Kyoto. No final da tarde, outro documento apresentado numa reunião -fechada- dividia a redução de emissões em três partes: as dos países desenvolvidos, as dos em desenvolvimento e as "gerais".
No item "mitigação geral" consta a frase "agendas nacionais", que, segundo o embaixador extraordinário para Mudança Climática do Brasil, Sérgio Serra, é a senha para implodir o pacto de Kyoto. "Agendas nacionais" são uma proposta feita pela Austrália para que as ações de corte de gases-estufa sejam feitas por meio de políticas nacionais, ajustadas segundo as condições de cada país e sem necessariamente uma meta de corte preestabelecida. A ideia conta com a simpatia dos EUA e do Japão.
A União Europeia, apesar de defender Kyoto, não quer que os EUA desistam, pois o país é historicamente o maior poluidor do planeta. "O problema é quererem acabar com o protocolo com duas semanas de negociação pela frente antes de Copenhague, sem texto para pôr no lugar", disse Serra.
(Por Claudio Angelo, Folha de S. Paulo, 08/10/2009)