Europa elogia meta do País, que inclui reduzir desmate em 80% até 2020
O Brasil não pretende adotar metas de desmatamento zero nem elevar os objetivos estabelecidos no Plano Nacional de Mudanças Climáticas, como forma de reduzir emissões de gases-estufa e facilitar o acordo do clima em Copenhague, em dezembro. A afirmação foi feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Estocolmo, durante reunião entre a União Europeia e o Brasil. No encontro, o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, definiu o plano brasileiro como "ambicioso" e exemplar.
Mesmo após pedir esforços dos demais países em favor de um acordo ambicioso e de definir a 15ª Conferência do Clima (COP 15) das Nações Unidas como "um momento extraordinário" que enfrenta "um impasse", Lula descartou elevar as ambições de seu governo. "Nem se o Brasil fosse careca poderia assumir o desmatamento zero. Sempre vai haver alguém querendo desmatar alguma coisa." Ele citou o compromisso de reduzir o desmatamento em 70% até 2017 e em 80% até 2020: "É uma meta que vai precisar um esforço incomensurável da sociedade brasileira para ser cumprida."
Confrontado com dados da proposta brasileira, Durão Barroso fez elogios. "Em teoria, pode haver sempre mais ambição. Na Europa é a mesma coisa. Mas estamos sugerindo que outros países, em especial os com floresta tropical, com grandes zonas de mata, possam fazer um esforço comparável ao que o Brasil se submeteu", afirmou.
Presença em Copenhague
Minutos antes da cúpula, em sua chegada ao palácio Rosenbad, Lula deparou-se com uma manifestação promovida pelo Greenpeace, que pedia em faixas e cartazes o seu comparecimento à COP 15. "Lula, você levou as Olimpíadas, agora salve o clima", dizia uma delas.
Questionado sobre a intenção de comparecer à conferência, Lula disse que negocia com outros chefes de Estado e de governo a realização de uma reunião em Copenhague, que aconteceria entre 16 e 17 de dezembro - às vésperas do término da COP 15. "A ideia é que nós participemos juntos com o maior número possível de dirigentes mundiais", explicou. Se não houver acordo, o brasileiro não comparecerá.
"Mas eu trabalho com a ideia de que vários presidentes compareçam a Copenhague para que possamos fazer uma discussão de fundo", completou o presidente. Lula e Durão Barroso anunciaram ainda que Brasil e UE farão outra reunião sobre mudanças climáticas para encontrar um denominador comum em suas propostas. "Estamos juntos também na procura de uma solução para Copenhague", assegurou Durão Barroso.
A ação conjunta havia sido sugerida pelo presidente francês, Nicolas Sarkozy, em Brasília, em setembro. A UE já aprovou metas vinculativas em termos de redução de emissões de CO2, o chamado Pacote Energia-Clima, ou 3x20, que prevê no mínimo 20% menos gases de efeito estufa, 20% menos consumo de energia e uso de 20% de energias renováveis até 2020.
(Por Andrei Netto e Alexandre Calais*, O Estado de S. Paulo, 07/10/2009)
* Alexandre Calais viajou a convite da União Europeia