Temporais e ventos fortes, que destelharam casas na Serra na segunda-feira (05/10), preocupam produtores rurais. Diferentemente do inverno, um dos melhores dos últimos tempos para a fruticultura, a primavera tem trazido prejuízos a quem depende do campo para sobreviver Caxias do Sul – O granizo, que na segunda-feira atingiu casas e deixou vários pontos sem luz na Serra, trouxe prejuízos para a agricultura.
Não bastasse o mês chuvoso de setembro, com 421,7 milímetros, frente à média do mês que costuma ficar entre 156 e 183 milímetros, o granizo, que em alguns lugares durou pouco mais de um minuto, danificou plantações e trouxe dor de cabeça aos agricultores. Se o inverno, com frio intenso e ininterrupto, trouxe esperança aos fruticultores, a primavera deste ano castiga quem depende do campo para sobreviver.
Para os agricultores, o dia de ontem serviu para contabilizar os prejuízos causados pelo vento e pela chuva de granizo. Somente pela manhã o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Caxias já havia recebido 30 ligações de agricultores com perdas no campo. Para o presidente da entidade, Raimundo Bampi, ainda não se pode dimensionar o tamanho das perdas, porém ele lamenta que setembro e outubro estejam com um clima tão severo para a agricultura.
– Tivemos para a fruticultura um dos melhores invernos dos últimos tempos. Infelizmente, agora chegou a primavera, e pior é impossível. Muita chuva, temporal, esta noite (segunda-feira) realmente nos preocupou.
Ao caminhar pelas terras da família na Linha 60, em Caxias do Sul, o agricultor Nelson Serafini, 57 anos, não consegue disfarçar a tristeza. Serafini, que herdou o campo do pai e sempre trabalhou como agricultor, conta que nunca tinha visto tamanha perda com uma chuva de granizo. Segundo ele, que produz cinco variedades de uva para vinho, a niágara foi a mais atingida.
– Foi triste hoje (ontem) de manhã, foi uma perda grande. Ontem (segunda) tinha que ver, tratamos uns cachos bonitos aqui e, do que tinha, só sobrou uns 10% a 15% – lamenta.
A parte da plantação que resistiu às intempéries dos últimos dias, agora precisa de cuidados extras para não ter doenças, principalmente porque os galhos estão mais frágeis. A esposa do produtor, Zenaide Serafini, 54, lembra que as chuvas do ano passado também prejudicaram a uva, e por isso a safra de 2009, 87 mil quilos, foi menor do que a de 2008, 100 mil. Na tarde de ontem, o casal e o filho Claudionor Serafini, 23 anos, aguardavam a visita de um engenheiro agrônomo para decidir o que fazer a partir de agora para recuperar, ou pelo menos reverter, parte dos danos à uva.
O prejuízo lembrado por Zenaide, em decorrência da chuva, também deve afetar a safra do ano que vem. As chuvas de setembro e o frio registrado nas últimas semanas pegaram a uva na época de brotação, e a falta de sol e o excesso de umidade podem trazer doenças à planta. Segundo o técnico agrícola da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) de Bento Gonçalves, Thompsson Didone, são comuns doenças fúngicas que causam uma deformidade preta na base do ramo. Se os brotos tiverem alguma praga, pode ocorrer uma diminuição do crescimento do ramo, que fica debilitado e mais propenso à quebra. Além disso, alguns fungos podem ficar no broto e atacar o grão de uva mais tarde.
Para o vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Caxias do Sul, Rudimar Menegotto, a fruticultura não foi afetada tanto pelo frio como está sendo pelas chuvas e pela umidade. Por isso alguns agricultores já afirmam que haverá diminuição de produto.
– Principalmente nas áreas onde a brotação esta mais adiantada, os agricultores estão preocupados. Se não tivesse ocorrido essa chuva, a expectativa da safra era muito boa – pondera.
Este ano, foram colhidos 534 milhões de quilos, quase 16% a menos do que a safra de 2008, também por causa do excesso de chuvas durante o período da brotação e floração.
(Por Lariane Cagnini, O Pioneiro, 07/10/2009)