O Lulismo concentrou ainda mais a terra no Brasil. O Censo Agropecuário, que visitou mais de cinco milhões de propriedades rurais em 2006 e foi divulgado quarta-feira passada (30/09) pelo IBGE, mostrou que há muita terra na mão de poucos. O Índice de Gini do uso do solo no Brasil é de 0,872, muito próximo de um, o que indicaria o nível máximo de concentração.
Em 1996, quando foi feito o último censo, a taxa era de 0,856. A concentração na terra é 67% superior à da renda no país, que já apresenta um grau de desigualdade entre os maiores do mundo. Em outra comparação, o Brasil tem uma concentração de terra pior que a Namíbia na distribuição de renda. No país africano, o índice Gini da renda é de 0,72. Entre os estados brasileiros, os mais concentradores são Alagoas (0,871) e Mato Grosso (0,865).
"É uma concentração gigantesca, é imoral. Esse dado dá força para a reforma agrária, o único programa que faz redistribuição de patrimônio" - afirmou a socióloga Brancolina Ferreira, pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), na área de desenvolvimento rural.
Diante dessa concentração, o número de trabalhadores no campo vem diminuindo ano a ano. Em dez anos, deixaram de trabalhar nas lavouras 1,3 milhão de pessoas. Os movimentos sociais ligados ao mundo rural, o MST, MPA e a Via Campesina, já vinham alertando há anos sobre os fenômenos da concentração da terra no Brasil e suas consequências funestas para os trabalhadores do campo. Sempre foi frisado, pelos movimentos, que a política agrária do governo Lula era insuficiente e anêmica para deter as flagrantes desigualdades no campo brasileiro.
Chama a atenção a obtusidade e o filistinismo do ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, entrismo do agronegócio no lulismo de resultados. Stephanes, que foi Geisel-boy, por ter ocupado o ministério da Previdência Social durante a ditadura civil militar, ficou contrariado porque o IBGE colocou destaque na obtenção de dados sobre a agricultura familiar, já que os censos agropecuários oficiais anteriores nunca se preocuparam em saber da realidade dos que produzem cerca de 70% dos alimentos da cesta básica.
O Censo Agropecuário 2006 do IBGE é a prova oficial empírica contra a farsa do agronegócio parasitário. Cada vez mais fica evidente a necessidade de uma política de reforma agrária mais forte por parte do governo federal, bem como a adoção dos novos índices de produtividade da terra, entre outras políticas estratégicas para a produção sustentável de alimentos.
O fenômeno da concentração da terra nos últimos dez anos no país - agora comprovado pelo IBGE - demonstra que o governo Lula tem promovido políticas e incentivos que só beneficiam o agronegócio de exportação, em detrimento do mercado interno, da agricultura familiar e da cidadania camponesa.
A pré-candidata Dilma Rousseff terá que pautar esse tema espinhoso (para o lulismo) se quiser conquistar os corações e mentes dos verdadeiros protagonistas da produção de alimentos no mundo rural brasileiro.
Pensem nisso, enquanto eu me despeço.
Até mais!
(Por Cristóvão Feil, Agência Chasque, 06/10/2009)