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Natura Partido Verde marina silva
2009-10-07

"Guilherme quem?", foi assim que a paulistana Margarete Costa Mendes, uma das 798,7 mil vendedoras da Natura, reagiu ao ser informada de que Guilherme Peirão Leal, 59, cofundador e um dos maiores acionistas da fabricante de cosméticos, se filiou ao Partido Verde (PV) e é cotado para ser vice na chapa da senadora Marina Silva (PV-AC) na eleição presidencial de 2010. "Não sabia que ele também foi fundador da Natura e acredito que a maior parte das vendedoras da empresa também não saiba", acrescentou Margarete.

Ao contrário do colega Luiz Seabra, Leal realmente não é muito popular entre as consultoras da maior fabricante nacional de produtos de beleza. "O Seabra? Ele sim! Se fosse candidato, votaria nele e até faria campanha. Acredito que a maior parte das vendedoras também faria o mesmo", diz Isabel Gimenes, outra vendedora da companhia. "Quando bati metas de faturamento, recebi poemas escritos pelo Seabra. Ele está sempre apoiando as revendedoras. Nas cerimônias, é ele quem entrega os prêmios para as campeãs de venda", diz Isabel, que já viajou até para o Marrocos por conta da Natura, depois de bater marcas de produtividade.

Essa falta de popularidade atribuída a Leal também é compartilhada por analistas de mercado. "Se ele realmente for candidato, acho que a chapa não vai decolar", diz um analista da SLW Corretora de Valores e Câmbio. "Ele e a Marina não combinam", acrescenta outro analista, da Rio Gestão de Recursos.

As dúvidas sobre o potencial da chapa são maiores do que sobre os riscos que a empresa correria de se tornar um alvo para partidos políticos de oposição ao PV. "Seria um tiro pela culatra", considera um ex-executivo da companhia, com sede em Cajamar (SP). "A Natura é vista pelo público como uma empresa ética, que respeita as pessoas e a natureza. O consumidor e as revendedoras têm até um certo carinho pela marca. Político falando mal da companhia não iria colar", justifica.

A boa imagem da empresa é tão forte que confunde até mesmo sindicalistas. "Gostava muito mais da Natura antes de entrar para o sindicato", diz Petrônio de Oliveira Correia, funcionário da Natura há 19 anos e diretor do Sindicato dos Químicos Unificados de Campinas, Osasco, Vinhedo e Regiões há um ano. "Eu tinha uma visão bem mais positiva da empresa. Agora, vejo que a companhia explora muito, faz pressão demais para conseguir produção", acrescenta.

A entidade de classe, segundo o sindicalista, iniciou agora a campanha salarial da categoria, que tem dissídio em 1º de novembro. A pauta de reivindicações inclui um reajuste de 10% nos salários - 4,5% a título de correção da inflação do último ano e o restante, aumento real. "A Natura, historicamente, nunca acertou um percentual em conjunto com o sindicato. Ela nunca abre mão do reajuste definido pelo sindicato patronal e também não deixa que se faça assembleia no estacionamento da fábrica, mesmo que seja algo simples, só para comunicar os empregados", reclama Correia.

Mesmo assim, os analistas de mercado não acreditam que argumentos contra a empresa, como esse, sejam capazes de afetar a imagem, os negócios ou as ações da Natura. "A imagem de sustentabilidade é mais forte", afirma o analista da SLW. A companhia, segundo outro ex-executivo que trabalhou diretamente com Leal, não se envolveria espontaneamente numa possível campanha eleitoral liderada por Leal e Marina. "A Natura é totalmente apolítica. E o Guilherme Leal, que sempre foi ativista, mesmo quando ainda tinha funções executivas na empresa, também sempre soube separar as coisas. Não creio que ele iria misturar as estações agora", afirmou.

O risco de alguma das 798,7 mil vendedoras espalhadas pelo território nacional - um exército de cabos eleitorais de fazer inveja a qualquer candidato - ser pega com um santinho do PV é descartado por elas. "Sou fã da Natura. A candidatura de um cofundador da empresa me parece uma boa ideia, mas associar a companhia a uma campanha eleitoral não é o perfil de quem ajudou a construir o que a Natura é hoje", diz Raquel Tarran, de São Paulo, vendedora da empresa desde 1990.

(Por Lílian Cunha, Valor Econômico, 06/10/2009)


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