A Vale está negociando a formação de um consórcio que seria integrado também Suez, CPFL e Neoenergia para disputar a hidrelétrica Belo Monte, no Pará. Até agora, como apurou o Valor, ainda não há acerto firme, mas a conversas e entendimentos estão em fase adiantada. O projeto é muito grande e há necessidade de conjugar esforço para torná-lo viável, disse Maurício Bähr, presidente do conselho de administração da Suez Energy Latin America que controla os ativos do grupo franco belga GDF Suez, na região.
A provável entrada da Vale reforçaria o futuro consórcio do grupo Suez que, pelo rumo atual das negociações, deve entrar na briga contra um outro liderado pela Odebrecht. O grupo baiano já disse que pretende participar do leilão, "desde que as condições oferecidas pelo governo sejam mais atraentes que as anunciadas até o momento", disse Sérgio Bourroul, assessor de comunicação da Odebrecht.
Segundo ele, o que a construtora considera condições pouco atraentes é basicamente a informação recente "de um limite de um custo de R$ 16 bilhões para a construção da usina. Os estudos apontam para cerca de R$ 30 bilhões". Este custo foi estimado, segundo ele, por um consórcio formado por Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez e Odebrecht.
Há algum tempo, a Vale manifestou interesse por Belo Monte principalmente por causa dos negócios de alumínio que toca na região e que demandam muita energia, como Albrás e Alunorte. A mineradora tem interesse na energia para consumo próprio e por isso só pode ter no máximo 20% do consórcio. Hoje, a Vale responde por cerca de 4% da energia consumida no país. Como a geração firme de Belo Monte, calculada pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), deve ser de 4,6 mil MW médios, ela poderia utilizar 920 MW.
"O grupo Suez está fazendo estudos topográficos para estimar o valor do projeto", disse Bahr, mencionando que a diferença entre o valor da EPE e o das construtoras (R$ 30 bilhões) é de R$ 16 bilhões. "A diferença de avaliação é muito grande". Bähr confirmou conversas com Neoenergia e CPF para possível associação. Observou, no entanto, não há ainda nada fechado. Segundo ele, a licitação do projeto está na dependência da licença prévia a ser dada pelo Ibama, órgão federal de Meio Ambiente.
A EPE pretende levar Belo Monte a leilão ainda este ano, segundo disse ontem seu presidente, Maurício Tolmasquim. A empresa está certa de que haverá disputa pela execução e operação do projeto. Embora a licença do Ibama seja condição básica para que o leilão ocorra, ela não é impeditivo para a publicação do edital de licitação, a ser feito pelo menos 30 dias antes da data a ser fixada para a disputa.
O governo tem no momento duas urgências antes da licença prévia. A primeira é a manifestação do Tribunal de Contas da União sobre a documentação enviada dois meses atrás pela EPE sobre a construção da usina e da forma de licitação. Sem a anuência do TCU o processo não tem como ir adiante. A segunda é a Declaração de Recurso de Disponibilidade Hídrica a ser emitida pela Agência Nacional de Águas. Somente de posse dessa declaração será possível precisar qual será a energia firme da usina do rio Xingu.
O governo disse que a Eletrobrás pretende ter até 49% do investimento da hidrelétrica. Belo Monte potência para gerar 11 mil MW, mas deve gerar metade disso por ser uma usina sem reservatório.
(Por Chico Santos e Vera Saavedra Durão, Valor Econômico, 06/10/2009)