Os pescadores de Ubu e Parati estão obrigados a assistir de braços cruzados à ocorrência de prejuízos provocados pela Samarco Mineração S/A na região. Segundo eles, durante as dragagens da empresa um grande número de sururus foram encontrados nas areias das praias. Tartarugas mortas também foram encontradas no mesmo período.
O fato foi denunciado pela Associação de Pescadores de Ubu e Parati (APUP). Segundo eles, os impactos gerados pela Samarco, as condições de trabalho a que se limitaram os pescadores da região e as constantes dragagens, realizadas desde a década de 70, não serão mais tolerados pela comunidade.
Segundo a notificação da APUP, foram fotografados sururus em grande quantidade em diversos dias da dragagem realizada pela Samarco. Conforme ocorreu em 2007, desta vez também houve período de escassez de baiacu, pescada, robalo, anchova e chixarro, após as intervenções da empresa. Além disso, houve mortandade de peixes no momento do descarte da dragagem, dizem os pescadores.
E os impactos não para por ai. Até a pesca do polvo, feita tradicionalmente de duas a três milhas do litoral, foi prejudicada pelo descarte do material de dragagem. Os pescadores alegam que os polvos só foram encontrados a dezesseis milhas do litoral. Os pescadores reclamam ainda que ficaram impedidos de pescar durante a época de dragagem, que durou um mês, o que agregou ainda mais dificuldade à vida da comunidade local.
Eles ressaltam que os erros cometidos pela Samarco chegaram a ser discutidos na tentativa de minimizar os impactos, mas que suas colocações não foram sequer analisadas. Entre elas está a proposta de descarte de material de dragagem a sete milhas da costa. Eles cobram mais atenção dos órgãos ambientais.
Neste contexto, cobram ainda o apoio do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Ieama) e Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Renováveis (Ibama) e o ressarcimento pelo período em que foram impedidos de trabalhar. Cobram ainda que o descarte das próximas dragagens não seja mais feito no mar, mas bombeado para um local apropriado e definido pelos órgãos ambientais, garantindo a preservação da riqueza natural da região e a vida da comunidade pesqueira.
Segundo eles, o estudo sobre o impacto de suas atividades no desembarque do pescado, que deveria ser apresentado pela Samarco, atrasou mais de um ano e, quando foi apresentado, também não contemplava os prejuízos dos pescadores. O atraso chegou a ser justificado por um roubo sofrido pela empresa Cepemar (que realiza os estudos de impacto ambiental das grandes empresas). Na ocasião, a informação era que todos os dados sobre os pescadores estavam na máquina roubada.
Além da Samarco, também geram prejuízos ao sul do Estado a Petrobras e a Vale, denunciadas inúmeras vezes pela sociedade civil organizada por não cumprirem as exigências acordadas em reuniões com a população e por apresentarem projetos de compensação ambiental que não contemplam os prejuízos ambientais gerados por elas.
Os pescadores se dizem exaustos. Reclamam da falta de compromisso com os acordos firmados e denunciam o uso de equipamentos sem o aviso prévio aos pescadores, destruindo os equipamentos de pesca utilizados por eles. Em uma última ação da Petrobras, os pescadores perderam seis redes de pesca, por exemplo. A empresa estava instalando um gasoduto próximo à praia do Além e utilizou uma balsa Equipemar da empresa Sub-sea. Segundo eles, a comunidade de pesca artesanal do município está abandonada pelos poder público.
(Por Flavia Bernardes, Século Diário, 05/10/2009)