A locomotiva chinesa é um sorvedouro de energia, hoje derivada principalmente do carvão, altamente poluente, que responde por 69% do gasto total.
A China começa a dar respostas às críticas em relação ao modelo de desenvolvimento baseado no uso em escala do trabalho mal qualificado e no consumo descontrolado de matérias-primas. Busca-se agora um sistema mais racional, focado em tecnologia, qualificação da mão de obra, redução do consumo de recursos naturais e em uma eficiente política ambiental, que parece ainda estar na infância. A nova orientação, que apareceu na primeira conversa com o vice-diretor do Serviço de Informação do Conselho de Estado, Xu Yiang, também é ouvida de outros dirigentes, federais ou provinciais.
A locomotiva chinesa é um sorvedouro de energia, hoje derivada principalmente do carvão, altamente poluente, que responde por 69% do gasto total. Há um plano de economia de energia, mas como a indústria pesada - metalurgia, química e materiais de construção - continua crescendo, a ênfase desta nova etapa é na substituição das fontes poluentes por energias mais limpas, que retirem da China o lamentável posto de maior emissor mundial de gás carbônico.
Cerca de 22% da energia consumida vêm do petróleo, 6% de hidrelétricas, 3% do gás natural e 1% de energia nuclear. Com 1,4 bilhão de bocas para alimentar, o país não se interessou pelo programa brasileiro de biocombustíveis, apesar do empenho pessoal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva neste sentido.
Apostando na energia eólica, a China assumiu o posto de segundo maior produtor do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. A previsão é de que sua produção anual aumente 10% todos os anos, mas hoje essa fonte ainda é um traço na matriz energética. Os grandes cata-ventos, entretanto, já pontilham a paisagem.
As hidrelétricas também estão se expandindo e podem contribuir para a mudança da matriz poluente, uma vez que o país dispõe de vários caudalosos rios. A Hidrelétrica de Três Gargantas, no Rio Yang-Tse, é a maior do mundo, superando a binacional Itaipu. Agora estão surgindo hidrelétricas menores, como a de Suofengying, na província de Guizhou. Como o rio corre no fundo de um vale profundo, foi construída sem desvio do curso de água, como é feito no Brasil.
Apesar da fama de poluente, a China tem belíssimos parques naturais e tem se aplicado no desenvolvimento do conceito de ecoturismo. No parque de Huongguoshy fica a catarata de mesmo nome, a terceira do mundo em altura, ao pé da qual se chega por uma escada rolante de mais de 300 metros, um presente de uma multinacional.
O governo sempre pede alguma contribuição, sob a forma de patrimônio público, às empresas que autoriza a se instalarem no país. A poucos quilômetros fica outro parque, dominado por um lago vulcânico, cavernas seculares e vestígios de populações primitivas. Existem dezenas de parques como esses em toda a China, assim como parques urbanos, como o Parque do Céu, em Pequim, onde os chineses dedicam-se a jogar peteca, dançar, fazer ginástica ou meditar sob as árvores centenárias.
Ushi é uma belíssima cidade às margens do Lago Tangjiashan, também chamada Pequena Xangai, pela proximidade com a megalópole. Ali se passou o conflito com a empresa Rio Tinto, que andou poluindo o lago, não cumpriu as exigências legais e acabou expulsa. Ushi vive essencialmente de indústrias limpas, como a de softwares, a de informática e a eletrônica, e de turismo.
Até Buda virou mercadoria. Há dois anos foi construído em Ushi um suntuoso templo, espécie de Capela Sistina do budismo, tendo ao lado, sob uma coluna, uma enorme escultura de Buda, maior do que o Cristo Redentor. E que atrai milhares de turistas, naturalmente.
(Por Tereza Cruvinel, Agência Brasil / EcoAgência, 01/10/2009)