Previsão é de que o fenômeno climático, que normalmente influencia na ocorrência de chuvas e temporais em Santa Catarina, estará no auge entre o mês que vem e o início de 2010
Os meteorologistas sentiram o clima. Perceberam que desde maio as águas do Pacífico Equatorial estavam aquecidas acima da média, principalmente entre a costa do Peru e a Austrália. Sinal de que o El Niño estava configurado. A experiência de anos anteriores, quando o fenômeno deixou seu rastro em Santa Catarina, fez os profissionais examinarem os mapas.
O resultado é uma previsão sombria, já que o ímpeto do El Niño deve estar no auge no final de 2009 e início de 2010. As chuvas recordes do mês de setembro, em quantidade e em poucas horas, fizeram com que os catarinenses colocassem as barbas de molho.
– A previsão não é animadora. Este padrão não deve mudar em boa parte da primavera, já que o excesso de chuva que aconteceu em setembro está associado à influência do El Niño que provoca chuvas acima da média e maior frequência de temporais – diz Maria Laura Rodrigues, coordenadora do setor de meteorologia da Epagri/Ciram.
A pergunta é inevitável. Será que Santa Catarina vai enfrentar desastre igual ao de novembro de 2008, já que, de acordo com estudos, as maiores enchentes do Estado na década de 1980 ocorreram em anos de El Niño de maior intensidade?
Ninguém arrisca uma resposta. Até porque se trata de previsão. Mas os profissionais da Epagri/Ciram lembram que existem dois aspectos a considerar. Um deles é o fato de que por causa deste evento, algumas regiões do Estado estão mais vulneráveis em relação a episódios de chuva. Outro é que temporais, cada vez mais, podem ser previstos em nível de volume e persistência de chuva com antecedência de três a cinco dias.
Com isso, há tempo de serviços como Defesa Civil Municipal e Estadual agirem nos cenários antes que eles virem tragédia. Foi o que ocorreu durante a semana passada no Rio Braço do Baú, em Ilhota, onde, por causa do assoreamento, encontrava-se no limite do nível. Equipes de bombeiros foram acionadas e permaneceram no local até que o risco diminuísse.
Pelos estudos, os meteorologistas observaram que o último El Niño de intensidade moderada a forte ocorreu entre 2002 e 2003. Naquele período, a primavera foi chuvosa em Santa Catarina. Os eventos do fenômeno de 1997-1998 e de 1982-1983 foram considerados os mais fortes do século 20, resultando em grandes enchentes no Estado. Neste ano, o El Niño apresenta-se com intensidade moderada, com anomalias de temperatura da água em torno de 1°C. Para fins comparativos, o forte El Niño de 1997-1998, em agosto, estava com temperaturas em torno de 2°C acima da média.
A força do evento climático acontece de forma mais intensa em outubro, novembro e dezembro. Isso é científico e não tem como ser mudado:
– Mas não significa que teremos tragédias. É preciso que as pessoas fiquem atentas às previsões do tempo e observem também a distribuição das chuvas – sugere o meteorologista Leandro Puchalski, da Central RBS.
Tecnologia da Epagri/Ciram é usada em outros estados
Com o modelo atual de monitoramento ambiental, Epagri/Ciram pretende chegar em termos de nível de rio ao que é desenvolvido em países como a Alemanha. Isso significa melhorar a qualidade da informação e fazer com que ela chegue o mais rápido possível ao público. Os equipamentos de captação dos dados (estações meteorológicas) produzidos em Santa Catarina têm conquistado o mercado brasileiro.
Estados como Bahia, Ceará e Mato Grosso têm adquirido as estações montadas com peças como censores, chips de telefone celular e antenas. As estações agrometeorológicas produzidas pela Epagri/Ciram têm o baixo custo como um dos atrativos (em torno de R$ 5 mil as mais simples) e já foram instaladas na Bahia.
Como a região ainda não é coberta por sinal de celular, os dados recolhidos pelos sensores ficam armazenados em cartões de memória acoplados ao próprio aparelho. As estações desenvolvidas pela Epagri/Ciram têm capacidade de enviar esses dados via GPRS, de hora em hora para uma central. Hamilton Justino Vieira, coordenador do setor de agrometeorologia da Epagri/Ciram, Hamilton Justino Vieira, diz que até o final do ano os estados do Paraná e Rio Grande do Sul também deverão contar com estações agrometeorológicas da Epagri/Ciram, em número de 30 cada.
Para Vieira, o desenvolvimento da tecnologia a preço baixo é importante e respalda a competência dos profissionais da empresa. Mas alerta que Santa Catarina precisa de uma instituição operacional ainda inexistente no Estado. O governador Luiz Henrique da Silveira pretende transformar a Defesa Civil Estadual em Secretaria de Estado. Outra medida é o deslocamento do Ciram para a Defesa Civil.
(Por Ângela Bastos*, Diário Catarinense, 04/10/2009)
* Colaboraram Ana Paula Cardoso, Francine Cadore e Marcelo Becker