Macacos e preguiças são atropelados na avenida Miguel Estéfano, que passa pelo zoológico e o Jardim Botânico. Projeto prevê criação de uma avenida-parque, com mudança de traçado da avenida e limitação de tráfego pesado na região
Há quinze anos, macacos, preguiças e aves compunham a paisagem da então tranquila avenida Miguel Estéfano, na Água Funda (zona sul de SP). Hoje, a fileira de carros nos horários de pico e o tráfego intenso de caminhões na via aceleram seu desaparecimento. Alice Cruz, 42, é moradora da região há 20 anos e resgatou, somente neste ano, dois macacos bugios de um atropelamento na avenida.
A via cruza o parque estadual das Fontes do Ipiranga -que abriga o zoológico de São Paulo, o Jardim Botânico e representa mais de 10% da cobertura vegetal do município- e, segundo ela, "é perigosa e mal sinalizada". "Há quinze anos, a avenida era só mais um caminho para as cidades do ABC. Agora caminhões fogem dos pedágios da [rodovia dos] Imigrantes por aqui", diz Vera Bononi, diretora do Instituto de Botânica.
O estresse ambiental causado pelo tráfego intenso pode alterar a rotina da reserva e causar danos ao sistema -danos esses sanados pelo veterinário do zoológico André Nicolai. Ele, que eventualmente recebe aves e macacos acidentados, diz que os casos de atropelamento de macacos diminuíram por conta da instalação da "transbugio", uma espécie de ponte para travessia desses animais. Afastar os demais bichos do trânsito, dessa forma, seria um passo a mais.
Avenida-parque
Na Miguel Estéfano, o trânsito de crianças e de pacientes do hospital psiquiátrico da Água Funda, além dos constantes acidentes de carro, também são objeto de preocupação do conselho de defesa do parque, que, com a Secretaria de Estado do Meio Ambiente, propôs à prefeitura a transformação da via em uma avenida-parque.
A proposta prevê alargamento de calçadas, mudança no traçado da avenida e limitação do tráfego pesado. A vedete da ideia, porém, é a construção de um boulevard para unir parte do parque ao zoológico e ao Jardim Botânico. Órgãos estaduais e municipais formaram um grupo de estudos para avaliar a proposta e divulgaram relatório favorável às obras. A principal condição para sua viabilidade, porém, é a aprovação de uma antiga solicitação de moradores da zona sul da cidade -a duplicação da avenida do Cursino.
"A duplicação é uma necessidade real. É bem possível que seja viabilizada, se não por reivindicação do parque, mas devido ao estrangulamento do trânsito da região", diz Fernanda Bandeira de Mello, assessora de projetos especiais da secretaria.
Estudos de impacto da medida estão sendo avaliados pela secretaria dos Transportes, mas, de acordo com a secretaria, o alargamento das calçadas e uma possível ciclovia já podem ser viabilizados no prazo de um ano.
(Por Tai Nalon, Folha de S. Paulo, 04/10/2009)