Partido aposta em Marina Silva para fazer sucessor de Lula no ano que vem
O Partido Verde quer ser a novidade política nas eleições de 2010. Para tanto, filiou a senadora Marina Silva (AC) e executivos de peso. Mas, enquanto segura a bandeira ambientalista, a legenda tenta pôr debaixo do tapete o que pode manchá-la. Um deputado da legenda é alvo de dois inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF), outro tem imóvel comprado por empreiteira, um prefeito é acusado de comprar votos, distribuindo dinheiro e combustível, e um vereador de capital foi cassado sob a acusação de fraude eleitoral.
O PV ainda emprega na Câmara dois assessores de confiança denunciados pelo Ministério Público por envolvimento no desvio de recursos para compra de ambulâncias, na chamada máfia dos sanguessugas. Quando o assunto é dinheiro, o partido também não escapa. Teve de devolver recentemente R$ 94 mil aos cofres públicos por irregularidades na prestação de contas do fundo partidário ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Foi acusado de sonegar documentos, não comprovar despesas, e apresentar notas fiscais de empresas inexistentes e extintas.
No ano que vem, o partido pretende lançar Marina à Presidência. E, num movimento para alavancar seu nome no ano eleitoral, recebeu, na última quinta-feira (01/10), a filiação de empresários paulistas. Entre os "neoverdes" estão o copresidente do Conselho de Administração da Natura, Guilherme Leal, e os presidentes do Instituto Socioambiental, Henrique Svirsky, e do Instituto Ethos, Roberto Klabin. Todos dispostos a "servir" à candidatura de Marina ao Palácio do Planalto.
Problemas
Em cima de novas caras, o partido esbanja discurso e otimismo. Quando olha para trás, porém, o jogo é diferente. O PV recorre a práticas tão criticadas por seus filiados. Em maio, o Tribunal Regional Eleitoral do Amazonas cassou o mandato do vereador verde Jander Tabosa, acusado de usar a imagem do pai - um apresentador de TV - como se fosse a dele. A Justiça Eleitoral avaliou que ele tentou enganar o eleitorado. Tabosa perdeu o mandato seis meses depois de assumi-lo.
Na Câmara, 12 parlamentares pertencem ao PV. Um é Lindomar Garçon (RO), alvo de dois inquéritos autorizados pelo STF, um por improbidade administrativa e outro por crime eleitoral. Durante o escândalo das passagens aéreas, em abril, Fernando Gabeira (PV-RJ) admitiu que repassou à sua filha parte da cota parlamentar.
Outro deputado da legenda, José Sarney Filho (MA) tem um apartamento em São Paulo comprado por uma empreiteira, a Aracati Construções, Assessoria e Consultoria Ltda, conforme revelou o Estado em 16 de agosto. A empresa pertence a Rogério Frota de Araújo, membro da executiva do PV no Maranhão.
O PV também emprega na Câmara dois assessores sob suspeita: Rogério Corrêa Jansen e Andrey Batista Monteiro de Morais. Segundo o Ministério Público Federal, eles participaram do esquema da máfia dos sanguessugas. Respondem a processo na Justiça de Mato Grosso. Jansen trabalha na liderança do partido. Andrey Morais é lotado na primeira suplência da Mesa Diretora, ocupada pelo deputado Marcelo Ortiz (PV-SP).
No Maranhão, o partido está nas mãos de Sarney Filho. Filiado ao partido, o prefeito de São Mateus, Rovélio Pessoa, briga na Justiça para não perder o mandato. Ele é acusado de comprar votos por meio de distribuição de roupas, R$ 20 e vale combustível de seis litros para eleitores abastecerem no posto de sua propriedade.
Em abril, um juiz eleitoral cassou seu mandato. A decisão foi revogada no dia 15 de setembro pelo TRE do Estado, apesar do voto do relator favorável à perda do mandato. O tribunal é presidido por uma tia do deputado Sarney Filho, Nelma Sarney. Os adversários de Rovélio Pessoa prometem recorrer.
(Por Leandro Colon, O Estado de S. Paulo, 04/10/2009)