A previsão do Centro de Pesquisas e Previsões Meteorológicas da Universidade Federal de Pelotas (CPMet/UFPel) de uma primavera com chuvas acima da média acendeu o sinal de alerta entre os comerciantes e moradores nas adjacências do arroio Fragata, na divisa entre Pelotas e Capão do Leão. Atingidos por duas enchentes devastadoras recentemente, a primeira em maio de 2004 e a última em janeiro deste ano, a população exige uma solução para o problema de represamento da água, que, impedida de escoar naturalmente para o canal São Gonçalo, devido ao assoreamento do seu leito sob a ponte da viação férrea, buscou um novo curso com a passagem sobre as rodovias e represamento na região da indústria da Cooperativa Sul Rio-Grandense de Laticínios (Cosulati) e vizinhança.
Segundo o superintendente da cooperativa, Jones Raguzoni, os locais críticos e que impedem o escoamento natural da água são dois pontos da via férrea, sob a responsabilidade da concessionária América Latina Logística (ALL). O primeiro ponto, localizado nos fundos da fábrica de laticínios, possui uma ponte sobre o arroio, assoreada por bancos de areia e vegetação. Já o segundo consiste em barreira de pedras, no formato de um dique, destruído com a força das águas na enchente de janeiro deste ano, onde caiu uma composição da empresa e provocou a morte do maquinista.
A estrutura corta um areal e possui apenas dois canos para escoamento (um em cada extremidade), insuficientes para a drenagem do volume de água represada no local. A cooperativa defende a construção de duas pontes de várzea nesses locais, o que solucionaria o problema de vazão da água que desce pelo Fragata, em direção ao canal São Gonçalo.
A solução, porém, esbarra na definição de quem seria o responsável pela construção dessas pontes, se o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) ou a ALL. ''Enquanto eles discutem, nós estamos à mercê das chuvas'', diz Raguzoni. Segundo ele, estudo hidrológico do arroio Fragata, realizado pelo Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Ufrgs, reconhece a necessidade dessas pontes, solução que passaria por análise econômica da ALL. Outra reivindicação é a dragagem imediata do Fragata.
Existe preocupação também em relação à liberação da ponte arrastada com as chuvas de janeiro, no km 528 da BR 116, em reconstrução pela Ecosul, que deve ficar pronta em oito meses. O grande volume de água que desce pelo Fragata em direção ao canal São Gonçalo, hoje represada pelo desvio emergencial construído pela concessionária, passa a ser liberado e, com as saídas ainda trancadas, escoará novamente para a indústria e adjacências, acredita Raguzoni.
Conforme ele, a comunidade do entorno busca forma jurídica de evitar que o desvio seja reaberto e de buscar os responsáveis, caso ocorra nova catástrofe. Em nota, a América Latina Logística manifestou que a empresa entende que todas as medidas necessárias foram tomadas e que está à disposição das autoridades e comunidade para entendimento. Informou, ainda, ter realizado uma série de obras com foco na segurança na região de Capão do Leão. Uma das medidas foi a instalação de sensores de chuva.
(Por Luciara Schneid, Correio do Povo, 03/10/2009)