Empresa reduz previsão de despesa também com salários e ambulatório para chegar a valor estabelecido pelo TCU. Empreiteira não comenta a redução; Eletronuclear afirma que os cortes não vão afetar nem qualidade nem segurança da usina nuclear
Para evitar a perda do contrato de construção da usina nuclear Angra 3 e chegar ao valor definido pelo TCU (Tribunal de Contas da União), a construtora Andrade Gutierrez baixou gastos com aço, andaimes, pessoal e até ambulatório médico, entre outros itens. O valor foi de R$ 1,368 bilhão para R$ 1,297 bilhão. O contrato com a Eletronuclear, estatal subsidiária da Eletrobrás, foi renegociado há duas semanas. Nesta sexta (02/10), o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, autorizou o início da construção.
A construtora reduziu as previsões de gastos com matérias-primas, salários, encargos sociais, transporte de empregados e ambulatório médico para atendimento aos operários. Em nota, a empresa disse que não comentaria a redução. A previsão de dispêndios com a compra de aço baixou R$ 24,4 milhões. Os gastos com andaimes diminuíram R$ 21,38 milhões. A despesa com salários de ajudantes de obras, serventes e encarregados foi reduzida em R$ 6 milhões.
A Eletronuclear sustenta que os cortes não afetarão a qualidade nem a segurança da usina. Para o superintendente de gerenciamento de empreendimentos da estatal, Luiz Manuel Messias, a Andrade Gutierrez aceitou reduzir os preços porque a construção de uma usina nuclear lhe dará nova estatura para disputar o mercado. As usinas Angra 1 e 2 foram feitas pela Norberto Odebrecht.
A redução determinada pelo TCU, de R$ 120 milhões, corresponde ao preço médio de 2.000 casas do programa Minha Casa, Minha Vida. A Folha obteve a planilha com os itens revistos. Uma das explicações para o corte de R$ 9,379 milhões com combustível é que a energia será fornecida gratuitamente pela Eletronuclear. Segundo Messias, o orçamento pressupunha que todo o maquinário seria movido a diesel, mas, nas discussões com o TCU, ficou constatado que as gruas têm motores elétricos, e a previsão de gasto de combustível foi reduzida.
Indagado se o corte prova que os custos estavam superfaturados, Messias disse que podiam estar ""superestimados", mas que o Confea (Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia) considera aceitável variação de até 15% nos orçamentos. A redução feita, segundo ele, é de 10%.
A Andrade Gutierrez foi escolhida para construir Angra 3, nos anos 80. Cinco empresas participaram da licitação. A construção começou em 1984 e parou dois anos depois. Quando o governo decidiu retomar a obra, a construtora Mendes Júnior questionou no Ministério Público Federal a validade da licitação. O TCU decidiu que a licitação continua válida, mas exigiu examinar o contrato renegociado entre Andrade Gutierrez e Eletrobrás, antes da assinatura.
A previsão é que a usina entre em operação comercial em maio de 2015 e consuma R$ 7,3 bilhões. Parte dos equipamentos -como o reator nuclear- no valor de R$ 1 bilhão, foi adquirida na construção de Angra 2, e US$ 20 milhões são gastos, por ano, com sua manutenção.
(Por Elvira Lobato, Folha de S. Paulo, 03/10/2009)