Em Genebra, Teerã diz a sexteto que abrirá usina de Qom à inspeção; Rússia deve enriquecer urânio para iranianos
O diálogo em Genebra entre o Irã e o sexteto - integrado pelos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU e Alemanha - teve um começo "construtivo", disseram tanto o presidente dos EUA, Barack Obama, quanto o chanceler iraniano, Manouchehr Mottaki. Os iranianos concordaram em colaborar de forma "total e imediata", afirmou Javier Solana, chefe da diplomacia da União Europeia. Com o avanço na questão nuclear, foi afastada momentaneamente a adoção de uma nova série de sanções contra Teerã. EUA e aliados dizem agora aguardar resultados para reavaliar a situação.
Dentro da rodada de negociações na Suíça, o subsecretário de Estado William Burns reuniu-se a sós com o chefe da delegação iraniana, Saeed Jalili, no primeiro encontro bilateral entre membros do alto escalão dos dois países em 30 anos. "Este foi um começo construtivo" no diálogo com o Irã, disse Obama em Washington, pouco depois do fim das conversas em Genebra. "Mas agora deve ser seguido por ações construtivas, com passos concretos" de Teerã, acrescentou. Segundo o presidente, "a paciência americana não é infinita".
O chefe da Casa Branca havia estabelecido o fim de setembro como data-limite para o Irã concordar em colaborar com a comunidade internacional e abrir seu programa nuclear a inspetores. Na semana passada, Teerã admitiu a existência de uma usina clandestina perto da cidade sagrada de Qom, intensificando a pressão por parte dos EUA, França e Grã-Bretanha. As potências ameaçam impor novas sanções do Conselho de Segurança das Nações Unidas contra o Irã. Mas o diálogo de ontem, aparentemente, atenuou a tensão e o regime dos aiatolás conseguiu ganhar um pouco de tempo.
Enriquecimento
O sexteto concordou com a proposta iraniana de um terceiro país enriquecer urânio a cerca de 20% para Teerã. Provavelmente os russos assumirão esse papel, segundo diziam autoridades presentes na negociação.
Esse porcentual é insuficiente para a fabricação de uma bomba atômica, mas o nível de enriquecimento é superior ao necessário para uso civil. O Irã, por sua vez, aceitou uma inspeção mais detalhada de suas instalações. O próprio diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Mohamed ElBaradei, embarcará para Teerã nos próximos dias. Obama, ao comentar o encontro, deu "duas semanas" para os iranianos cooperarem com a comunidade internacional nas inspeções.
Em uma visita-surpresa aos EUA, onde aparentemente não se reuniu com nenhuma autoridade americana, o chanceler do Irã também elogiou o progresso. Em Genebra, o enviado iraniano descreveu as discussões como "boas". "Elas servirão de base para outras ainda melhores."
Cautelosa, a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, disse ter sido "um dia produtivo, mas ainda precisamos ver frutos e pressionaremos o nosso ponto para ver o que Irã decide fazer".
Na visão dos EUA, descrita por Obama, o Irã tem direito à energia nuclear, assim como os demais países signatários do Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP). Mas os aiatolás devem provar que não desejam obter capacidade nuclear com fins militares. O Irã é acusado de ter um programa clandestino de armas nucleares. Teerã nega e afirma que a finalidade é civil.
(Por Gustavo Chacra, Estado de S. Paulo, 02/10/2009)