Criticado por representante da Ciência e Tecnologia, Carlos Minc ataca "obscurantismo" da pasta na questão do clima. Para ministro do Meio Ambiente, "terceiro escalão" do MCT tenta barrar política de redução de emissões que seu ministério quer adotar
O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, criticou nesta terça (29/09) o MCT (Ministério da Ciência e Tecnologia) por aquilo que ele chamou de visão "obscurantista" do "terceiro escalão" da pasta em relação às posições brasileiras sobre mudança do clima. Minc respondeu a críticas feitas pelo coordenador-geral de Mudança Global do Clima do MCT, José Miguez, sobre a divulgação, pelo Meio Ambiente, de estimativas preliminares de emissões de gases de efeito estufa do Brasil.
Em entrevista à Folha anteontem, Miguez disse que o cálculo de emissões apresentado por Minc no mês passado "não tem nenhuma confiabilidade", por não incluir as ações de redução de emissões contempladas no MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo) do Protocolo de Kyoto e outros gases, como o N2O.
Afirmou também que o segundo inventário oficial de emissões do Brasil, cuja produção ele coordena, não ficará pronto a tempo de ser apresentado na conferência do clima de Copenhague, a COP-15, em dezembro: "A COP-15 não tem discussão de inventário". O MCT é oficialmente o órgão que formula as políticas de clima do Brasil, e tem protagonizado brigas com o Meio Ambiente por sua posição contrária a metas de redução de emissões para países pobres.
Nos últimos meses, as duas pastas se bateram sobre questões como a redução de emissões por desmatamento e a compensação ambiental para usinas termelétricas. Segundo Minc, Miguez teria ameaçado ir à Justiça para barrar uma resolução que determina que usinas térmicas plantem árvores para compensar emissões. O próximo inventário de emissões do Brasil é o novo foco de disputa. Hoje, a única contabilidade oficial é de 2004 e se refere às emissões de 1994. O inventário seguinte, que estava sendo esperado para este ano, teria como referência as emissões de 2000.
Minc considera a defasagem grande, e encomendou uma estimativa das emissões de 2008. É com base nela que a área ambiental espera produzir a proposta de redução que o Brasil apresentará em Copenhague. O MCT se opõe, dizendo que os números são imprecisos. Minc rebate, dizendo que sua conta abarca 92% das emissões brasileiras e que as reduções do MDL representam "menos de 5% do problema".
"Ele [Miguez] está escondendo uma coisa, que é o grande atraso da produção desse inventário", disse Minc à Folha. "Isso de ele dizer que não é objeto obrigatório da COP-15 não resolve, porque todas as discussões que estamos tendo para definir a posição brasileira de redução dependem de uma estimativa de emissões. A gente vai reduzir em função de quê? Dos dados de 1994?"
Sub do sub
"Daqui a pouco a gente não faz inventário porque não é obrigado, não faz tal coisa por causa do MDL. Daqui a pouco a política brasileira do clima é uma coisa que ficou circunscrita a um terceiro escalão que se agarrou à questão do MDL e tem uma visão nacionalista dos anos 1950", continuou Minc.
Segundo o ministro, o grupo do MCT se opõe a "tudo o que a gente faz para diminuir emissões". "É um atraso de vida que está brecando o avanço da posição brasileira. É um terceiro escalão enraizado, que está travando a discussão do clima e amesquinhando, impedindo que o Brasil avance." Procurado pela Folha, Miguez, que está na Tailândia, não havia comentado as declarações de Minc até o fechamento desta edição.
(Por Claudio Angelo, Folha de S. Paulo, 30/09/2009)