Empoleirados no capô do caminhão Ford enquanto as águas despejadas em cascata pela Barragem do Salto subiam assustadoramente, Lindomar Ferreira, 47 anos, e Paulo Francisco Reis Oliveira, 49 anos, imploraram por socorro até serem levados pela correnteza, no início da tarde de domingo. Os dois estão desaparecidos. Ontem, bombeiros retomaram as buscas, mas não encontraram sequer o caminhão.

Lindomar dirigia pela estradinha de chão batido que passa rente à Barragem do Salto, na Vila Eletra, no município de São Francisco de Paula. Pretendia levar até Canela o amigo Paulo Francisco, que tinha plantão dominical na Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan). A via estava coberta pela água – a barragem já transbordava devido ao excesso de chuvas –, mas Lindomar achou que daria passagem.

Filho de Paulo, Rodrigo Barbosa de Oliveira, 30 anos, acha que o motorista deve ter errado o leito da estrada vicinal, muita estreita, confundindo-se com a lâmina de água. Ao mesmo tempo, crescia a vazão da Barragem do Salto. Às 11h15min, Lindomar disparou o primeiro telefonema ao cunhado Davenir Borges da Silva, 45 anos:

– A água tá subindo, tá subindo, chama os bombeiros, um helicóptero.

Quinze minutos depois, Lindomar tornou a ligar para Davenir, desta vez mais desesperado:

– A água tá subindo, vai levar o caminhão...

Às 12h, Lindomar telefonou para outro cunhado, Rudimar Laurentino, 49 anos, igualmente motorista.

– Pede por socorro, chama os bombeiros – suplicou.

– Os bombeiros disseram que estão chegando – informou Rudimar.

– Mas não estou enxergando ninguém – exasperava-se Lindomar.

Bombeiro teve de ser resgatado

Os bombeiros chegaram a tempo. O soldado André Edgar De Moura, 27 anos, e o bombeiro civil Miguel dos Santos, 49 anos, ambos de Canela, tentaram se aproximar dos náufragos, mas também foram surpreendidos pela correnteza. Miguel precisou voltar nadando à margem, enquanto De Moura ficou retido pela água, quase tornando-se a terceira vítima. De Moura acabou salvo por outro colega, Rogério Martins, 33 anos.

– A correnteza estava muito forte. Infelizmente, não conseguimos resgatá-los – lamentou-se Miguel.

Ontem, quatro mergulhadores do Grupo de Busca e Salvamento vieram da Capital para reforçar as buscas.

Paulo Francisco e Lindomar passavam o final de semana com seus familiares, numa cabana próxima à barragem. Festejavam o aniversário de uma neta de Paulo. Estavam habituados a circular pela estrada ao pé da barragem, mesmo em dias de chuva.

Houve dúvidas se os dois não poderiam ter abandonado o caminhão assim que ele parou. Rodrigo lembrou que o pai, Paulo, sabia nadar e conhecia os rompantes da barragem. Lindomar, ao contrário, teria medo de água.

– O pai decidiu ficar junto, em solidariedade – supôs Rodrigo.

(Zero Hora, 29/09/2009)