Duas semanas depois de enfrentar uma grande cheia, o Rio Grande do Sul enfrenta uma nova grande cheia. O drama decorre de uma situação que raramente se repete: um volume de chuva, ao longo deste mês, que chega a ser, em diferentes regiões, mais do que duas vezes superior ao normal. Os rios seguem subindo, o que deixa em alerta a Defesa Civil. Em Porto Alegre, o prefeito José Fogaça convocou uma reunião extraordinária para discutir como atender as famílias das ilhas.
Em municípios como São Sebastião do Caí, por exemplo, foi a terceira enchente em menos de 50 dias. Os temporais que se abateram a partir do fim de semana reeditaram as cenas vistas na metade do mês. O panorama no Estado era ontem à noite de 6,5 mil pessoas expulsas de casa, 4 mil residências danificadas, lavouras destruídas, rios transbordantes e cidades alagadas. Um pessoa morreu e duas estavam desaparecidas. O vilão foi o fenômeno El Niño, que deverá manter as precipitações acima da média até o final do ano. A próxima chuva já chega amanhã e pode agravar a situação, sem dar tempo para a cheia refluir.
– A chuva prevista não é forte, mas vai cair em solo que já está úmido, o que não é bom. As pessoas devem ficar em alerta. Por causa do El Niño, o Rio Grande do Sul não vai ter muito tempo seco daqui para a frente. Vão ser dois ou três dias, e a chuva volta de novo – prevê o meteorologista Leandro Puchalski, da Central de Meteorologia.
Homem está construindo casa para se livrar das enchentes
Por causa de vendavais, tempestades de granizo e inundações, 12 municípios decretaram situação de emergência. Segundo a Defesa Civil, são ao todo 45 mil gaúchos com algum prejuízo por causa da chuva. Os desabrigados somam 2,5 mil, e os desalojados chegam a 4 mil. Com rios subindo, os números ainda podem aumentar.
Alguns gaúchos se recuperavam da enchente anterior quando esta veio. No dia 11, por exemplo, o mecânico Luiz Alexandre Coimbra de Azevedo, 46 anos, ficou submerso quando o Rio Caí, em São Sebastião do Caí, atingiu 13m30cm e despejou água por todos os lados. Ele se animou pensando que seria a última vez: estava quase pronta a sua nova casa, distante do rio. Enganou-se. Amargava ontem nova cheia, agora com o Caí a 14m10cm.
Vizinho do rio há duas décadas, Azevedo investiu R$ 2,5 mil em um pequeno barco a motor para salvar a família e moradores próximos nas subidas da água. Ontem ele pôs o barco na inundação para levar conhecidos ao trabalho.
– Quem tem um caíco aqui faz chover. Nas nossas circunstâncias, vale mais do que um carro importado – disse o mecânico.
Pelas contas da Defesa Civil da cidade, a atual é a terceira enchente em 49 dias. Há 400 pessoas abrigadas em dois ginásios municipais e em um salão paroquial por causa dos alagamentos. Os problemas se repetiam por toda parte, com variações. Em Santa Cruz do Sul, quem criou problemas foi o granizo, responsável por destelhar 500 casas.
Como ajudar
- A Defesa Civil estadual orienta quem quer fazer doações que procure as defesas civis municipais e as prefeituras para entregar os donativos
- Em Porto Alegre, também é possível colaborar no Comitê de Ação Solidária, que fica no Centro Administrativo
(Zero Hora, 29/09/2009)