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hidrelétrica de belo monte
2009-09-29

No dia 22 de setembro em São Paulo , ABDIB (associação de grandes construtoras) organizou um evento com participação de 450 representantes de empresas de engenharia e construção, bancos, empresas elétricas, e bancos, principalmente. Na mesa estiveram representantes do MME, Aneel, MMA, Ibama, Abdib, e CNEC. International Rivers e MAB também participaram.

Basicamente, o evento foi para a EPE apresentar os resultados dos seus estudos de "otimização" do projeto, e para BNDES apresentar suas condições e planos para financiar a hidrelétrica. Tudo isso no âmbito de "tranqüilizar" investidores potenciais sobre a consistência do projeto.

Embora a mídia tenha divulgado as novas projeções do custo da obra (R$17 bi - R$16 com incentivos fiscais do governo, e um total de R$ 21 bi com juros durante construção), isso não foi divulgado nas apresentações, apenas em resposta a uma pergunta da platéia - as estimativas dos custos estão sendo analisadas pelo TCU. Foi constatado pelo diretor de engenharia da CNEC que os custos estimados para as barragens do rio Madeira foram subestimados.

Não vou repetir a apresentação da EPE - o powerpoint está disponível através deste link. Somente para resumir:

A EPE mexeu com as configurações dos canais, tentou encolher o tamanho das estruturas, diminuindo as cristas das barragens e diques, e utilizando turbinas maiores para permitir barragens um pouco mais enxutas, com o objetivo de diminuir os custos. Utilizando novos mapas 1:10.000, eles determinaram valores diferentes de escavação na região dos canais, mas que são da mesmo ordem de grandeza dos valores dos estudos de viabilidade, que prevê escavações da ordem daquelas que foram feitas na construção do Canal de Panamá - segundo o engenheiro da CNEC, seriam equivalentes ao total de todas as escavações feitas para barragens no Brasil nos últimos 20 anos.

Os comentários do Ministro Edison Lobão, MME, foram políticos - tipo "Há grupos remando contra a construção de Belo Monte, que estão tentando demonizar o projeto. Não consigo entender as motivações dessas pessoas, as vezes grupos alugados para protestar contra o que estamos tentando fazer para o povo brasileiro".

Maurício Tolmasquim, Presidente da EPE, falou que cabe à ANEEL determinar a tarifa teto para o leilão. Ficou claro que politicamente todos querem realizar o leilão neste ano. Márcio Zimmermann do MME falou "sabemos que a lógica de um ano eleitoral é outra". A optimização da EPE é apenas "sugestiva", e caberia aos ganhadores do leilão determinar exatamente como fazer o projeto. Eles derem o caso de Jirau como um exemplo disso.

Uma mudança sugerida foi a utilização de turbinas maiores, para permitir que a casa de força e a barragem Pimentel sejam menores. Também, sugeriram a eliminação de um vão de vertedouros saindo da casa de força. Mexeram com a configuração (perfil) dos canais e taludes também e com as ensecadeiras. Foi constatado como uma preocupação o efeito da vazão do rio Amazonas e a maré no canal de fuga em Belo Monte, que teria uma oscilação de um metro em média.

Sobre os impactos sócio-ambientais, foi feito uma análise que estabeleceu que os custos que constam no orçamento são "consistentes" e "adequados". Os programas sociais de abrangência regional deveriam custar 3% do custo da construção, segundo a EPE. Foi sugerida a constituição de um grupo de 15 pessoas para gerenciar os projetos de mitigação. Foram citadas as "inúmeras reuniões" durante os estudos de Belo Monte que foi colocado pelo diretor de licenciamento do Ibama como "um modelo de participação pública".

Eles disseram que a barragem deveria conseguir gerar a sua capacidade máxima e verter água "em várias ocasiões", segundo projeções feitas utilizando as vazões históricas. Isso tomando em conta "as regras" sobre a necessidade, ou não, de liberar 8.000 m3/seg ano sim ano não, se a vazão vertida para a Volta Grande não atingir este nível durante o ano anterior. Sobre a garantia física do projeto, eles disseram que fica na ordem de 4.600 MW médios.

Importante mencionar que havia críticas por parte de algumas empresas presentes, notavelmente o superintendente-presidente da CNEC, José Ayres de Campos. Ele falou que, devido ao fato de que a construção teria que ser feita num raio de 1.000 km2, envolvendo trabalhos de construção de estradas e portos e acampamentos ("não é simplesmente uma cama que precisamos dar para os trabalhadores"), a obra é bem mais complexa do que a EPE está projetando, e os custos deveriam ser maiores. Ele questionou os cortes das cristas das estruturas, porque precisa ter aceso para as máquinas que vão fazer a escavação. Também, mencionou que durante 3 a 4 meses, não dá para mexer com terra na região.

A EPE diz que a construção de eclusas não está contemplada no projeto atual, e se forem feitos no futuro, o empreendedor não seria responsável pelo custo.

Finalmente, BNDES diz que deveria dar os termos mais favoráveis, e o maior empréstimo na sua história para Belo Monte, algo em torno de R$12 a R$14 bi, além de colocar dinheiro "indiretamente". Isso comparado com R$9,5 milhões neste ano para eficiência energética. Eles pretendem ver a possibilidade de aumentar em 5 anos (para 30 anos) o período de amortização do empréstimo.

(Por Glenn Switkes*, Língua Ferina / Telmadmonteiro.blogspot.com, 26/09/2009)

* Director do Amazon Program da International Rivers


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