Em briga de cachorro grande, que envolve a participação da organização não-governamental Survival e, até mesmo, da Anistia Internacional, empresários brasileiros, proprietários da empresa agrícola Yaguareté Porã SA, voltaram a desmatar as terras onde viveriam uma das últimas tribos isoladas da América do Sul.
A denúncia, repercutida pelos principais meios de comunicação do Paraguai neste final de semana, foi protocolada pela organização Gente, Ambiente e Território (GAT), que zela pela defesa dos indígenas Ayoreo Totobiegosode que seguem à margem do contato com a “civilização”.
O habitat da mencionada tribo, no extremo norte do Paraguai, coincide com latifúndios adquiridos, à distância, pelos investidores brasileiros, que pretendem derrubar a mata chaqueña para a instalação de pastagens e a criação de rebanhos bovinos. A suspensão do desmatamento havia sido determinada mediante portaria da Secretaria Nacional do Meio Ambiente (SEAM). Há, ainda, uma denúncia penal protocolada no mês de junho, denunciando a atuação da empresa e solicitando respeito aos direitos reservados aos indígenas que mantêm-se em isolamento.
Membros já contatados do povo Totobiegosode, residentes na região de Filadelfia, confirmam a existência de “grupos selvagens” nas terras adquiridas pela Yaguareté Porã. O último avistamento dos índios, ocorrido a prudencial distância, foi registrado em 2008.
Terras sagradas
Outro conflito envolvendo tribos indígenas e empresários do setor pecuarista é o que ocorre na região de Pedro Juan Caballero com a tribo Paî Tavyterã e os proprietários de cerca de 500 hectares de terras situados ao pé do Cerro Yasuka Venda. Segundo a tradição oral das tribos do norte do Paraguai e de parte de Mato Grosso do Sul, o local é considerado como “o centro do universo”, tendo ali originado-se várias das formas de vida hoje conhecidas.
Em 1990, Jasuka Venda foi declarado patrimônio cultural dos indígenas paraguaios. Três anos mais tarde, o governo confirmou, com a promulgação da Lei nº 209, a expropriação das terras a favor da tribo Paî Tavyterã. Tal medida, no entanto, é ignorada pela justiça local, que segue dando ganho aos pecuaristas.
Mantimentos
Em Itakyry, município paraguaio vizinho ao Lago de Itaipu, a sexta-feira (25/09) foi de conflito entre índios das comunidades Ka´aguy Roky, Tajy Loma, Buena Nueva e Ka´a Poty e funcionários do Instituto Nacional do Indígena (INDI), que chegaram ao local com a intenção de entregar mantimentos. De acordo com o Diário Última Hora, o protesto foi contra a quantidade insuficiente para garantir a entrega aos moradores das quatro aldeias, com a retenção do caminhão e de seus tripulantes, até que a diretoria do INDI enviasse a quantidade suficiente para alimentar a todos.
Com a aproximação da polícia, no entanto, os índios partiram em debandada e desistiram do protesto. Os caciques Ignacio Gauto, Cristóbal Gauto Taparí, Agustín Benítez, Luciano Villalba e outro identificado apenas como Benítez, devem ser denunciados ao Ministério Público ainda nesta segunda-feira (28).
(Por Guilherme Dreyer Wojciechowski, SopaBrasiguaia.com, 28/09/2009)