Caçar e matar não são a mesma coisa. Enquanto o Estado americano de Idaho vendeu mais de 14 mil licenças para caçar lobos, os dez dias iniciais da primeira caçada legal a lobos no Estado em décadas, que começou em 1° de setembro, só produziu três mortes registradas. Esses modestos resultados iniciais poderiam parecer surpreendentes em um Estado que tentou durante anos convencer o governo dos EUA a permitir que se reduzisse a população de lobos por meio da caça.
Os moradores de Idaho são dos mais apaixonados caçadores nos EUA e estão aprendendo que o pequeno número de lobos -cerca de 850 foram contados no Estado no final de 2008- os torna mais uma vez vulneráveis e difíceis de encontrar. "Está claro que não vai ser fácil", disse Jon Rachael, administrador da vida silvestre do Departamento de Caça e Pesca local. O consenso entre caçadores e autoridades é que a caça ficará melhor quando o tempo esfriar e a neve cair, revelando os lobos contra o fundo branco.
Antes mortos por atacar carneiros e bois, os lobos cinzentos foram amplamente erradicados do norte das montanhas Rochosas na década de 1930. Eles foram declarados espécie ameaçada de extinção em 1974. Em 1995, foram reintroduzidos na região por autoridades federais.
O programa foi um sucesso, e a população de lobos em Idaho, Montana e Wyoming -cerca de 1.650 no final de 2008- hoje é o quíntuplo da meta estabelecida para reintrodução. Fazendeiros e caçadores queixam-se novamente de que os animais estão matando gado, assim como grandes animais que os caçadores perseguem, como os alces. Após anos de estudos e processos legais, os lobos foram retirados da proteção da lei federal em Idaho e Montana em maio passado.
J. D. Hagedorn e seu pai, Marv, deputado estadual pelo Partido Republicano, participaram do primeiro dia de caça, em 1° de setembro. Marv está entre as muitas pessoas que dizem que a longa e acirrada luta sobre o lobo foi, na verdade, uma luta sobre o oeste e como viver nele. Ele contou que os primeiros colonos "vieram e destruíram tudo", das florestas aos peixes, e até os lobos. Mas, em um esforço para restaurar o equilíbrio, segundo ele, o governo federal assumiu demais o controle em Estados como Idaho. "O governo acrescentou esse predador e causou uma confusão."
O estudante Hagedorn filho se disse mais dividido que seu pai e seu avô em certas questões políticas e ambientais. "Eu entendo a importância de um predador em um ecossistema", explicou. Mas, na sua opinião, os lobos devem ser administrados, "e, não vou mentir, são uma ótima caçada".
(Por William Yardley, The New York Times / Folha de S. Paulo, 28/09/2009)