Temporais deixaram um morto e dois desaparecidos no final de semanaA nova onda de temporais que fustigou o Rio Grande do Sul durante o final de semana trouxe vento, granizo, chuvarada, deixou um morto e dois desaparecidos, destelhou casas e fez com que setembro registrasse mais do que o dobro da chuva esperada para o mês. A Defesa Civil gaúcha havia recebido, até a noite de ontem, relatos de estragos em pelo menos 11 municípios devido principalmente à queda de pedras de gelo e a inundações.
Reforçada pelo encontro de uma massa de ar quente que veio do Norte e com um ar mais frio que se encontrava sobre o Estado, a instabilidade atmosférica formou grandes nuvens que desabaram na forma de água e gelo da noite de sábado até a manhã de ontem. Santa Catarina também foi atingida pelo mau tempo – tempestades de granizo atingiram pelo menos 15 cidades e 6 mil pessoas.
No Rio Grande do Sul, onde cerca de 18 mil consumidores ficaram sem energia elétrica, o Vale do Rio Pardo foi uma das regiões mais afetadas. Santa Cruz do Sul teve pelo menos 500 casas danificadas, e Venâncio Aires registrou estragos semelhantes. A Defesa Civil esperava que esses municípios, além de Tabaí, formalizassem situação de emergência devido aos prejuízos nas horas seguintes. Também informaram estragos oficialmente as prefeituras de Restinga Seca, Montenegro, São Francisco de Paula, Taquari, Herval, Vera Cruz, Bom Retiro do Sul e Três Coroas. Outras cidades ainda poderiam se somar à lista entre ontem e hoje.
Os relatos mais dramáticos da fúria climática, porém, vieram da região serrana. Natural de Canela, Rodrigo Monteiro dos Santos, 38 anos, caiu em uma armadilha ao tentar atravessar uma ponte em uma via de chão batido que dá acesso à Cascata do Caracol e morreu. Como a água já cobria a estrutura, o motorista teria errado o caminho e caído no leito do rio. Outros dois homens viveram momentos de desespero esperando resgate sobre a cabine de um caminhão já quase submerso, no limite entre Canela e São Francisco de Paula, mas foram arrastados pelo aguaceiro antes de serem alcançados pelos bombeiros (leia na página 6).
A chuvarada fez ainda com que várias regiões gaúchas tenham registrado mais do que o dobro da chuva esperada para o mês. Em Santa Maria, a precipitação acumulada até as 19h de ontem já era 130% superior à média histórica na região.
Segundo Cléo Kuhn, da Central de Meteorologia, o clima segue o padrão demonstrado já no final de agosto por influência do fenômeno El Niño (aquecimento das águas do Pacífico).
Em Três Coroas
O Corpo de Bombeiros de Três Coroas passou o domingo em alerta máximo. O Rio Paranhana transbordou e pelo menos 200 famílias tiveram de ser removidas e encaminhadas a abrigos municipais. Há pelo menos 20 anos o rio que cruza pelo centro da cidade não transbordava.
A água que tomou conta das praças e dos campos de futebol e ameaçou pontes despertou a curiosidade dos moradores que deixavam suas casas para ver a enchente. O nível do rio atingiu nove metros, sete acima do normal. Em bairros como o Eucalipto, CTG e o Vilão, não havia mais acesso de carro, apenas de barco com os bombeiros. Em outras localidades, como Asmute e Linha Café e Quilombo, a água ameaçava invadir as casas.
– Ele está fora do leito e segue subindo. Mas sabemos que com a mesma velocidade que ele sobe, ele desce também –, considerou o comandante do Corpo de Bombeiros, Augusto Dreher.
Na Capital
Com as casas alagadas próximo à Avenida Juca Batista, na zona sul da Capital, 20 pessoas foram levadas a um abrigo improvisado em uma igreja de Belém Velho. À noite, Bombeiros e Defesa Civil removeram 10 adultos, oito crianças e dois adolescentes.
– A situação pode piorar com a elevação do nível de arroios da região – afirmou Waldemar Pinheiro, agente de plantão da Defesa Civil de Porto Alegre.
Em Herval
Choveu granizo por cerca de 15 minutos na cidade do sul do Estado, que notificou a Defesa Civil sobre estragos causados pela chuvarada.
Em Venâncio Aires
Em Vila Mariante, no interior de Venâncio Aires, o vento se iniciou por volta das 21h, quando Tereza Odete de Paula, 66 anos, preparava-se para fechar a janela da sala. Foi nesse momento, que ela e o marido, Fernando da Silva, 65 anos, ouviram um forte barulho. Ao chegarem ao quarto de casal, viram a frente da casa ser levada pelo temporal.
– Há 30 anos nós moramos aqui e nunca vimos algo assim. Não sabíamos o que fazer. Foi triste – relata Tereza.
Em Montenegro
Pelo menos 20 casas tiveram o telhado perfurado pelo granizo. O ponto da cidade mais atingido foi a localidade de Costa da Serra, no interior do município. As famílias receberam auxílio durante toda a madrugada. A maior dificuldade era encontrar lonas. Com as lojas fechadas por causa do fim de semana, os bombeiros conseguiram arrecadar apenas 300 metros quadrados de lona. Eles estimam que outros mil metros sejam necessários.
No Vale do Sinos
Cerca de 60 famílias correm o risco de ter suas casas invadidas pela água em uma região de limite entre Novo Hamburgo e São Leopoldo, no Vale do Sinos. A quantidade de chuva fez o Arroio Gauchinho transbordar e deixou ilhadas famílias do bairro Santos Dumont, em São Leopoldo, e bairro Liberdade, em Novo Hamburgo.
– Estamos todos praticamente na água, não temos como entrar e nem como sair de casa – relata Juliana Gomes, 24 anos, moradora do lado leopoldense.
Em Rolante
Moradores do Loteamento Volnei Tadioto, do bairro Rio Branco, de Rolante, no Vale do Paranhana ficaram assustados com a força da água. Um muro de cerca de um metro, construído com pedras, desabou. A água, segundo o pedreiro Vacir Antonio Correa, 31 anos, ameaça invadir as residências que fazem limite com um córrego da região.
Rota bloqueada
A chuva prejudicou os planos de quem pretendia se deslocar pela Rota do Sol. Quedas de pedras e terra provocaram a interdição da rodovia a partir do km 4, próximo ao trevo de acesso a Cambará do Sul. O bloqueio permanece pelo menos por hoje em 52 quilômetros, até Terra de Areia, nas proximidades da BR-101.
(Zero Hora, 28/09/2009)