Oficialmente era a caminhada da organização ambiental Brasil no Clima para pressionar o governo brasileiro a adotar metas para a redução de emissões de gases na 15ª Conferência das Partes da Convenção do Clima (COP 15), na Dinamarca, em dezembro. Na prática, foi o primeiro ato público da pré-candidata a presidente da República pelo Partido Verde, a senadora Marina Silva (AC).
Juntos, Marina, o presidente do PV no Rio, Alfredo Sirkis, e o deputado federal Fernando Gabeira (RJ), lideraram uma marcha de ambientalistas e simpatizantes neste domingo (27/09) ao meio dia pela Orla Sul da cidade. Não mais que 300 a 350 pessoas acompanharam a caminhada debaixo do sol forte, temperatura de quase 30 graus. A programação inicial era cobrir os 18 quilômetros à beira mar entre o início do Leblon e o final do Leme. Mas terminou bem antes, no Arpoador, que liga Ipanema a Copacabana.
O público que seguia animando a marcha era gente arregimentada pelo PV em suas unidades do Norte e Sul fluminenses, região serrana e Baixada, militantes já convencidos das causas defendidas pelos líderes verdes. "Precisamos de autoridades que sejam ambientalistas", dizia a dona de casa paraense Benedita do Carmo, moradora de Vila Isabel, que participou do movimento com o marido e a filha, empunhando um cartaz com a foto de Chico Mendes.
Curiosos, moradores e frequentadores das praias da região, se postaram ao largo das Avenidas Delfim Moreira e Vieira Souto para ver a marcha passar. Eram pessoas de classe média, que foram surpreendidas pela passeata. Estampavam cara de meros "observadores".
O assunto eleição estava vetado. Funcionários do Tribunal Regional Eleitoral estiveram no início da concentração, no Leblon, para avisar os organizadores que o movimento não podia ser caracterizado como campanha presidencial, caso contrário o partido seria punido. Os militantes do PV estavam orientados para que só palavras de ordem em defesa do meio ambiente fossem ditas. Mas de vez em quando se animavam e gritavam "Marina presidente!". Sirkis bem que tentou conter os ânimos. Na hora que pedia, era atendido. Mas logo os militantes se empolgavam com aquela que já consideram candidata em 2010 à vaga do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e voltavam a gritar: "Marina presidente!".
Entre os "observadores" havia simpatizantes cientes de que a marcha não era só sobre meio ambiente. Era o caso de Vitor Martins, de 31 anos. Abrigado do sol embaixo de uma árvore, parado com as mãos para trás, Martins disse achar "muito interessante" a candidatura de Marina e que deveria votar nela em 2010, depois de ter votado em Lula em 2006.
Cautelosa, Marina preferiu não falar sobre eleição e centrou suas declarações no tema da caminhada, a reunião de dezembro na Dinamarca. E criticou a posição do governo Lula na questão: "O Brasil precisa estabelecer metas claras de redução (de emissões de gás carbônico) em Copenhague".
Mas Gabeira, em conversa com jornalistas antes do início da caminhada, reafirmou o apoio "inequívoco" do partido a uma eventual candidatura de Marina em 2010. E explicou que o discurso para conquistar eleitores fora do pequeno grupo ambientalista será "igual ao dos outros, mas com o meio ambiente como centro". "Pensamos em estradas, represas e energia, sem deixar de pensar no ambiente", disse Gabeira.
(Por Janes Rocha, Valor Econômico, 28/09/2009)