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cmpc eucalipto no pampa aracruz/vcp/fibria
2009-09-28

A Fibria, unificação da Votorantim Celulose e Papel (VCP) e Aracruz, pretende bater o martelo sobre o futuro da unidade de Guaíba até dezembro. A única candidata à compra é a chilena Compañía Manufacturera de Papeles y Cartones (CMPC), que deverá ser a nova dona do complexo. O diretor de Operações Florestais e Tecnologia da Fibria, Walter Lídio Nunes, que acompanha de perto as negociações na sede da unidade gaúcha, aposta que a aquisição deve abrir caminho para a retomada da ampliação da planta industrial, abortada em 2008 na carona da crise mundial.

O nocaute sofrido com endividamento em aplicações de derivativos pela antiga Aracruz, que virou Fibria na associação com a VCP e com capital do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (Bndes), também incentivou à suspensão do projeto. Nunes diz que três empresas estrangeiras se habilitaram à aquisição. Com a melhora dos preços da celulose e da demanda mundial pós-crise, a empresa começa a reativar novos plantios na sua base florestal, o que será um alento para segmentos da cadeia econômica que paralisaram atividade ante a freada do principal comprador. O diretor da Fibria também acena para viabilidade do projeto Losango, da ex-VCP, que prevê a instalação de indústria de celulose na zona Sul gaúcha. O próprio Nunes, que deixará Guaíba na troca de dono, comandará o investimento.
 
Jornal do Comércio - Como está a negociação com o grupo chileno?
Walter Lídio Nunes -
Foi assinado um termo de entendimento, com regras gerais e que orientam o negócio. Em um segundo momento (em outubro), será firmado acordo que estabelecerá referências e detalhes. Depois, ocorre o processo de verificação de ativos e do balanço, que definirá valor básico, que poderá ser mais ou menos a oferta da CMPC, de US$ 1,43 bilhão. Nos próximos 90 dias, a empresa chilena tem prioridade. A expectativa é de efetivar o negócio até dezembro. A partir de janeiro, a unidade passa à companhia chilena.

Quando começaram as conversações para a venda?
Nunes -
Surgiram interessados nos ativos nos últimos meses. Depois da publicação do Fato Relevante, que oficializou a abertura de negociações, há cerca de um mês, três grupos, incluindo o chileno e todos de fora do País, apresentaram propostas.

Qual o peso da empresa chilena no cenário global da celulose?
Nunes -
É o segundo grupo no Chile, atrás apenas da Arauco, segundo no mercado mundial, liderado pela Fibria. A CMPC comprou recentemente a fábrica da Melhoramentos Papéis, de São Paulo. Com a aquisição da unidade gaúcha, a companhia passará a ter capacidade de 2 milhões de toneladas para 2,5 milhões anuais de celulose. No Chile, há limites na expansão da base florestal. Aqui, há imensidão a ser explorada. A produção brasileira é a mais competitiva no mundo. Na Europa, o custo é o dobro do nosso (que é de US$ 240 por tonelada da celulose).

Como está a produção em Guaíba?
Nunes -
Hoje é de 450 mil toneladas anuais de celulose, sendo que 30 mil são destinadas à produção de 50 mil toneladas de papel. O restante é exportado. A crise não afetou o ritmo da unidade. Se reduzíssemos, os custos fixos ficariam altos. O recuo atingiu outras unidades da Fibria. São 1,5 mil funcionários, entre diretos e indiretos.

Como ficará a ampliação da planta?
Nunes -
Isso será decisão no novo dono. Mas ninguém compra uma unidade de 450 mil toneladas para ficar apenas com esta capacidade. Eles (os chilenos) estão comprando o projeto, que inclui a expansão (para mais 1,3 milhão de toneladas por ano), que faz todo sentido que seja feita (o investimento era previsto em R$ 5 bilhões).

A empresa assegurou essa pretensão?
Nunes -
Estou conversando direto com a direção da CMPC, que perguntou do projeto e está comprando a unidade com a expansão. Já temos a ampliação da base florestal. Se o projeto não saísse, teríamos madeira sobrando. O preço a ser pago inclui essa nova base. Dos US$ 1,43 bilhão, US$ 450 milhões são de ampliação de florestas.

O projeto pode ser retomado já em 2010?
Nunes -
O mercado mundial da celulose está melhorando, o preço subiu um pouco (está em torno de US$ 560 a tonelada). Antes da crise, chegou a bater em US$ 800. No fundo do poço, a tonelada chegou a US$ 380, com estoques em alta nas fábricas. A Ásia voltou a comprar. A recuperação deve ocorrer em 2013 e 2014.

O município de Guaíba e produtores florestais gaúchos já podem voltar a acreditar na reativação dos investimentos?
Nunes -
Em 2010, os produtores devem aumentar suas atividades. A recuperação ocorrerá nas áreas ligadas às operações atuais da unidade de Guaíba. Em 2010, vamos plantar novos materiais para assegurar maior produtividade. Serão de 20 milhões a 30 milhões de mudas em áreas novas e na reforma de florestas. Estamos reativando viveiros próprios. A compra de material de terceiros ainda será discutida.

A fábrica da ex-VCP na zona Sul do Estado pode sair do papel?
Nunes -
Com o negócio, surge a possibilidade concreta de crescimento da Fibria. O novo recurso permitirá reestruturação da dívida da empresa. Com menor grau de endividamento e menor risco, aumenta a chance de captar recursos para crescer. O projeto Losango está de pé. Para quando? É o que tem de ser equacionado. Depende do mercado e do comportamento da dívida. A Fibria recém se construiu. Nem planejamento estratégico foi feito. Há investimento em base florestal, e a nova planta é componente forte do portfólio. O fato é que não faríamos dois projetos ao mesmo tempo (Guaíba e zona Sul). A venda pode garantir os dois agora.

(Por Patrícia Comunello, JC/RS, 28/09/2009)


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