Impressionados com a capacidade de resistir a situações ambientais adversas e sua sobreposição às pastagens naturais, pesquisadores investigam há décadas a forrageira invasora que mais compromete a economia do setor pecuário. Desde março, um grupo da Universidade de Passo Fundo (UPF) se esmera em conhecer ainda mais o capim-annoni.
Coordenado pela agrônoma Simone Meredith Scheffer-Basso, o estudo pretende subsidiar a identificação de manejos mais adequados para barrar a expansão da gramínea. Participam ainda uma bióloga, uma química, um agrônomo e três estudantes de Biologia.
Desde que foi introduzido no Estado, em 1958, disfarçado entre sementes de capim-de-rhodes importadas da África do Sul, o capim-annoni se estabelece como um competidor voraz nos campos do Sul do Brasil. Na região de Passo Fundo, a planta compromete a rentabilidade de uma das mais importantes bacias leiteiras do Estado. 'O capim-annoni atinge as pastagens perenes e é uma ameaça constante, principalmente porque tem um banco de sementes muito forte e se dissemina de forma impressionante', diz Simone.
Embora a pesquisa só deva ser concluída em 2011, algumas constatações serão apresentadas na mostra de iniciação científica da universidade, em dezembro. Uma delas é a verificação de que a planta não se estabelece em áreas sombreadas por pinus e eucalipto. 'Isso nos leva a considerar que o capim-annoni seja suscetível ao efeito alelopático de outras plantas', acrescenta a pesquisadora.
A alta resistência e sua adaptabilidade ao clima contrastam com a baixa qualidade como forrageira. A gramínea se espalha com agressividade, ocupa espaço de plantas menos resistentes e derruba o rendimento dos rebanhos. A baixa palatabilidade é outra arma para se manter nos campos. Os animais rejeitam a planta e dão preferência às pastagens naturais. Com isso, o capim-annoni se fortalece e se sobrepõe às demais. 'Essa gramínea está presente em áreas mal manejadas ou de superpastejo. A situação é grave e exige medidas como o equilíbrio entre carga animal e oferta de alimento', explica a veterinária Corália Medeiros, da Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (Fepagro). Segundo ela, a recuperação dos campos é um processo de longa duração, com diferentes abordagens e muita persistência.
Entre os procedimentos recomendados estão a semeadura por meio do plantio direto, que revolve menos o solo e evita trazer à superfície sementes não-germinadas da invasora. Sobre as plantas, a aplicação de um herbicida por contato, com o uso de uma roçadeira desenvolvida pela Embrapa Pecuária Sul, de Bagé, tem se mostrado eficiente. O Campo Limpo, como foi batizado o equipamento, é leve e tem diferentes regulagens de altura para trabalhar todas as áreas de pastagem. 'Embora o custo seja elevado, o retorno em produtividade compensa. Um animal pode registrar ganho de peso até 10% inferior com alimentação à base do capim-annoni', avalia o agrônomo José Carlos Leite Reis, da Embrapa Clima Temperado, em Pelotas. Página 2
O INIMIGO
-Originário da África do Sul, está espalhado pelo mundo e já ocupa 20% dos campos do Sul do Brasil;
-O capim-annoni é altamente resistente a distúrbios ambientais e se adapta com facilidade às características do meio;
-A planta tem alta produção de sementes;
-As sementes apresentam grande longevidade no solo;
-Devido à baixa palatabilidade, o capim-annoni é rejeitado pelo gado, que prefere as pastagens naturais;
-Rico em fibras e pobre em proteínas, a planta dificulta a engorda dos animais;
-Possui raízes longas;
-Alta capacidade de extração de nutrientes do solo;
-Produz substâncias alelopáticas, que dificultam o desenvolvimento de outras plantas no entorno;
-É altamente resistente a estresse hídrico.
A PESQUISA DA UPF
-O trabalho avalia os efeitos dos extratos das raízes e da parte aérea do capim-annoni sobre a germinação de espécies forrageiras;
-Duas populações da invasora são comparadas para verificar se há diferenças, o que indicaria variedades novas e mais problemas aos pecuaristas;
-O estudo também analisa o desenvolvimento da planta, com o objetivo de identificar as melhores alternativas de manejo para combatê-la;
-Diferentes alturas de corte da gramínea também são experimentados para identificar a melhor forma de dificultar o crescimento.
(Por Claudio Medaglia Junior, Correio do Povo, 27/09/2009)