O Brasil ocupa a liderança mundial no consumo de agrotóxicos, com uma taxa anual de crescimento de 5% na utilização desse tipo de produto. A posição preocupa o setor de pesquisa agropecuária. 'O uso indiscriminado de inseticidas chega às vias da irracionalidade no país', alerta José Francisco da Silva Martins, da Embrapa Clima Temperado, de Pelotas, que sediou durante a semana a 11ª Reunião Sul-Brasileira sobre Pragas de Solo.
Durante três dias, pesquisadores, técnicos, estudantes, professores, produtores e empresários debateram estratégias para incentivar a adoção de práticas alternativas de combate às principais pragas que afetam as lavouras brasileiras. A questão passa, também, pelo conhecimento científico, ainda longe do ideal nessa área. 'As pragas de solo são controladas principalmente por agrotóxicos aplicados de forma preventiva. E a facilidade para esse tipo de aplicação pode ser a responsável pela pouca intensidade de estudos sobre outras alternativas de manejo', explica Martins, coordenador do evento.
A pesquisa reconhece que o controle químico é um método importante; porém, deve ser utilizado de forma racional, associado a técnicas diferenciadas, de acordo com os princípios da bioecologia. Para o pesquisador José Magid Waquil, da Embrapa Milho e Sorgo, de Sete Lagoas, em Minas Gerais, o monitoramento é a chave do manejo integrado, mas não tem sido praticado pelos brasileiros. O desafio é quantificar o número de insetos na lavoura e fazer o seu acompanhamento direto para, em caso de evolução, definir o melhor momento de aplicação dos métodos de combate. O ideal, recomenda Waquil, é que esse monitoramento seja feito antes mesmo da implantação da lavoura, quando é possível verificar a necessidade de tratamento. A partir do diagnóstico, o produtor pode lançar mão de diversos artifícios, dependendo da cultura. No caso do milho, pode ser uma opção a adoção de variedades transgênicas, resistentes à larva do alfinete. Práticas culturais são uma saída para driblar o problema no início.
Para uma solução a médio e longo prazo, os pesquisadores propõem o manejo ecológico. 'Trata-se do monitoramento anual da praga em questão, nos seus diferentes ambientes, procurando fazer o controle na época em que o inseto estiver mais fragilizado', diz Waquil. Outra estratégia é o combate em grandes áreas, em vez do trabalho concentrado apenas em uma propriedade. 'É como em um prédio infestado por baratas. O combate será muito mais eficaz se for feito em todo o edifício, e não apenas em um ou outro apartamento, de forma isolada', exemplifica o pesquisador.
Waquil defende ainda uma mudança no atual receituário agronômico, considerado 'deficiente', porque, normalmente, o agrônomo prescreve os defensivos baseado no relato do produtor, sem verificar in loco o problema. A sugestão é que passe a existir um responsável técnico pela produção, algo considerado bastante polêmico e que exigiria mudanças na legislação que rege o uso de agrotóxicos.
Onde esbarra o avanço do controle alternativo
-A pesquisa ainda necessita evoluir para qualificar os estudos sobre o manejo integrado;
-A assistência técnica precisa utilizar mais o conhecimento científico hoje existente;
-Os produtores devem se interessar pela questão, atendendo inclusive a uma exigência mercadológica de aumento da demanda por alimentos seguros, sem resíduos e ecologicamente corretos;
-Os fabricantes de agrotóxicos também têm que reduzir a pressão sobre os produtores.
(Por Lisiana Santos, Correio do Povo, 27/09/2009)