Um peixe de nome Joaninha está no centro de uma discussão. A espécie (Crenicichla Emtheres) vive nas Quedas de Aberlardo Luz, no Oeste catarinense. Endêmica, ou seja, essa variedade não é encontrada em nenhum outro lugar do mundo, sua evolução só foi possível naquele lugar por causa do isolamento geográfico.
Agora, o sossego de Joaninha está ameaçado pela instalação de uma usina, uma Pequena Central Hidrelétrica (PCH). Como ela, outras espécie da fauna e da flora de Santa Catarina sustentam o dilema das águas das 24 bacias hidrográficas do Estado com relação à instalação de outras PCHs. O exemplo de Abelardo Luz é emblemático porque o projeto da usina prevê o represamento das águas do Rio Chapecó justamente no trecho em que se localizam as quedas, principal atração turística e símbolo da cidade.
Em Nova Trento, também na Grande Florianópolis, a implantação de quatro empreendimentos no Rio Alto Braço agrada aos moradores, que veem nisso um investimento importante para a geração de energia e geração de empregos. O certo é que quem investe nisso tem vantagens. A água, combustível da usina, pode ser usada sem pagamentos ao município ou estados. Trata-se de um bem público da União. Basta chover para a matéria-prima não faltar.
Apagão de 2001 impulsionou discussão sobre essas usinas
O movimento das PCHs cresceu com o apagão, em 2001. Na época, o governo se deu conta de que o país não podia parar por falta de energia. O jeito foi olhar para os estados e ver onde havia potencial disponível. O relevo de Santa Catarina, com rios cheios de quedas, mostrou-se propício.
No começo, os projetos eram espaçados ao longo dos rios. Mas as últimas análises dos técnicos da Fundação do Meio Ambiente (Fatma) para emissão de licenças ambientais mostram que as distâncias encolheram. No Rio Chapecó, por exemplo, são oito empreendimentos. No Rio do Peixe, outras 12.
– Várias PCHs num mesmo rio causam efeitos cumulativos – observa Graziela Canton, da Gerência de Licenciamento de Empreendimentos em Recursos Hídricos, ao explicar que a Fatma olha as PCHs à luz da legislação.
– Não há como desconsiderar o apelo social em algumas regiões – diz a representante da Fatma.
(Por Lilian Simioni e Darci Debona, Diário Catarinense, 26/09/2009)