Protegido em Porto Alegre sob os cuidados da Associação dos Cabos e Soldados da Brigada Militar (BM), Alexandre Curto dos Santos, 38 anos, é o policial militar que admitiu ter sido o autor do tiro que matou o sem-terra Elton Brum da Silva, 44 anos, em 21 de agosto, em São Gabriel.
Soldado do Pelotão de Operações Especiais (POE) do 6° Regimento de Polícia Montada (6º RPMon), de Bagé, Santos teve seu nome mantido em sigilo pela BM, pela Polícia Civil e pelo Ministério Público Estadual (MPE) desde o episódio, ocorrido durante a operação de despejo de integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) por tropas da BM da Fazenda Southall.
Na manhã de ontem, Zero Hora e Rádio Gaúcha localizaram Santos em Porto Alegre. Questionado se gostaria de dar a sua versão sobre o que aconteceu, ele se disse impedido.
– Por determinação do comando, não posso falar – afirmou.
O estado emocional do policial militar é crítico, descreveu Leonel Lucas Lima, presidente da Associação dos Cabos e Soldados da BM. Há semanas na Capital, ele é atendido por um psicólogo da associação. A investigação do homicídio, já concluída, estava concentrada em São Gabriel, onde foi realizada em uma parceria entre a promotora de Justiça Ivana Battaglin, o corregedor-geral da BM, coronel Paulo Rogério Machado Porto, e o delegado da Polícia Civil Laurence Teixeira.
O advogado do policial, Alexandre Abel, deve relacionar a sobrecarga de trabalho e a falta de equipamentos como atenuantes. No dia anterior ao episódio, os PMs do POE haviam trabalhado da manhã até o final do dia, protegendo uma obra, de grevistas, em Candiota, a 50 quilômetros de Bagé. Naquela noite, logo após chegar em casa, por volta das 22h, Santos e seus colegas foram deslocados para São Gabriel, a 260 quilômetros de Bagé.
Comandante-geral só deve se manifestar na terça-feira
O sem-terra Silva foi morto com um tiro de espingarda calibre 12. Cinco dias depois da morte, durante o depoimento dos 15 soldados que usaram armas letais na operação, Santos admitiu ter sido o atirador. Contribuiu para sua confissão um vídeo de 55 minutos feito pela BM. Na gravação, não aparece o soldado puxando o gatilho, mas há cenas mostrando que ele estava no local de onde partiu o tiro.
Ontem, em Porto Algre, o comandante-geral da BM, coronel João Trindade Lopes, não confirmou o nome do soldado afirmando que só se manifestará na terça-feira, depois de analisar o relatório do IPM. Esse documento deverá ser entregue a Trindade na segunda-feira. Nos próximos dias, o delegado Teixeira enviará à Justiça o inquérito do caso. A tendência é de que Santos seja indiciado por homicídio doloso (com a intenção de matar).
(Por Carlos Wagner, Zero Hora, 26/09/2009)