Descoberta de instalação provocou críticas de EUA, Grã-Bretanha e FrançaA revelação de que o governo do Irã mantém uma segunda usina de enriquecimento de urânio teve ontem um efeito devastador sobre a já desgastada imagem do país asiático. Até mesmo Rússia – um forte aliado iraniano – e China reagiram diante da informação.
A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) confirmou que o Irã admitiu, no último dia 21, a existência de uma segunda usina no país para enriquecer urânio. A nova unidade fica próxima à cidade de Qom e distante cerca de 160 quilômetros da capital iraniana, Teerã. A descoberta provocou críticas imediatas de diversos países.
Os presidentes dos Estados Unidos, Barack Obama, e da França, Nicolas Sarkozy, e o premier britânico, Gordon Brown, interromperam a cúpula do G-20, em Pittsburgh, para fazer um pronunciamento conjunto. Em tom duro, voltaram a condenar o programa nuclear iraniano e reiteraram as suspeitas de que possa ter uma finalidade bélica – o enriquecimento de urânio pode ser usado tanto para a produção de energia elétrica como para a fabricação de armas nucleares.
Obama lembrou que “não é a primeira vez que o Irã esconde informações” sobre seu programa nuclear e ressaltou que o país tem direito a desenvolver esse tipo de energia, mas que o tamanho e a configuração da planta recém-descoberta são inconsistentes com um programa pacífico.
– O Irã está quebrando regras que todos têm de cumprir – afirmou.
O presidente americano destacou também que a nova usina vem a público “anos após sua construção” e que existe uma preocupação crescente no mundo porque o Irã “se recusa a assumir a responsabilidade”. Para ele, é fundamental uma inspeção internacional imediata na nova usina.
– Não podemos deixar que o Irã ganhe tempo – observou Sarkozy.
Brown, por sua vez, alertou:
– Não podemos deixar que o Irã passe dos limites.
Obama afirmou que “não descarta” a opção militar contra o Irã, mas prefere manter a via diplomática para persuadir o país a renunciar a suas atividades de enriquecimento de urânio. A chance iraniana para o diálogo pode estar no encontro marcado para o dia 1º de outubro, em Genebra, no qual estarão presentes autoridades de EUA, China, Rússia, Grã-Bretanha, França e Alemanha.
Ontem, um porta-voz da chancelaria chinesa pediu que o Irã coopere com a AIEA. O presidente russo, Dmitry Medvedev, afirmou que o país precisa provar que as instalações nucleares têm objetivos pacíficos. O presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, rebateu as acusações de que esteja escondendo informações e insiste que o projeto nuclear do país é pacífico:
– Não temos nenhum problema em que haja inspeções das instalações. Não é um local secreto. Se fosse, por que teríamos informado a AIEA sobre isso um ano antes?
(Zero Hora, 26/09/2009)