O governo do Irã revelou a existência de uma segunda usina de enriquecimento de urânio, informou à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) da ONU. Teerã fez o anúncio em uma carta enviada ao chefe da AIEA, Mohammed El Baradei, no início da semana.
O governo do Irã já havia admitido a existência de uma usina de enriquecimento de urânio em Natanz, que está sendo monitorada por inspetores da AIEA. As autoridades iranianas insistem que seu programa nuclear tem fins pacíficos, mas os Estados Unidos e outros países do Ocidente temem que Teerã esteja tentando desenvolver armas nucleares.
O Conselho de Segurança da ONU havia ordenado que o Irã suspendesse o enriquecimento de urânio na usina de Natanz e impôs sanções ao país. O Irã, no entanto, se recusou a cumprir a ordem, alegando que tem direito de desenvolver um programa de energia nuclear civil.
A notícia sobre a carta surge dias antes do reinício das conversações entre o Irã e o Conselho de Segurança sobre seu polêmico programa nuclear.
Diálogo ‘amplo’
Segundo o jornal americano New York Times, os líderes dos Estados Unidos, Grã-Bretanha e França planejavam divulgar, ainda nesta sexta-feira, que o Irã estaria mantendo uma segunda usina secreta.
O jornal ainda cita fontes do governo americano afirmando que a usina – construída dentro de uma montanha perto da cidade sagrada de Qom – ainda não está completa, mas poderia estar operando já no ano que vem.
Segundo essas fontes, acredita-se que a usina seja capaz de abrigar cerca de 3 mil centrífugas, as máquinas usadas no enriquecimento de urânio. Em sua carta, o governo do Irã a descreveu como uma “usina piloto”, ainda em construção, afirma o jornal.
O correspondente da BBC em Teerã, Jon Leyne, disse que a notícia deve levantar suspeitas de que o Irã tenha outras usinas secretas que poderiam ser usadas na fabricação de uma bomba nuclear.
A usina de Natanz, cerca de 250 km ao sul de Teerã, foi mantida em segredo até sua existência ser revelada por grupos de iranianos exilados, alguns anos atrás. Em um relatório sobre sua visita a Natanz, em agosto, inspetores da AIEA disseram que havia 4.592 centrífugas em operação no local, e que outras 3.716 estavam instaladas.
A AIEA afirma que o trabalho de expansão nos dois saguões de produção para as centrífugas, que segundo o Irã estava ainda em fase de planejamento, está, na verdade, quase completo.
Há meses o Irã enfrenta pressão para aceitar a oferta de diálogo do presidente americano Barack Obama sobre suas ambições nucleares. No início deste mês, o governo do Irã concordou em participar de “conversações amplas” sobre uma série de questões de segurança – mas não mencionou seu programa nuclear.
O encontro entre o Irã e representantes dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU – Estados Unidos, Grã-Bretanha, Rússia, China e França – mais a Alemanha] deve ser realizado em Genebra, no dia 1º de outubro.
A informação sobre a possível usina surge em um momento crítico, enquanto a comunidade internacional discute novas sanções ao Irã por causa de seu programa nuclear.
A Rússia havia sinalizado que pode estar preparada a diminuir sua oposição à aplicação de novas sanções contra o Irã, apesar de a China já ter dito que este tipo de pressão não seria eficaz.
(BBC, 25/09/2009)