O presidente Luiz Inácio Lula da Silva indicou nesta quarta (23/09) que o Brasil está disposto a se comprometer com medidas de combate ao aquecimento global nas negociações do novo tratado internacional sobre mudanças climáticas, que a Organização das Nações Unidas (ONU) espera concluir em dezembro, numa reunião em Copenhague, na Dinamarca.
Em discurso na abertura da 64ª Assembleia Geral da ONU, Lula foi vago ao descrever a natureza desses compromissos e não apontou as condições em que o país aceitaria incorporá-los ao tratado, num reflexo das divisões que o assunto ainda provoca no próprio governo. Mas o presidente adotou um tom diferente de seus pronunciamentos anteriores sobre o tema.
"Vamos chegar a Copenhague com alternativas e compromissos precisos", disse Lula, citando como principal contribuição do país para o combate ao aquecimento global o plano lançado pelo governo há um ano para conter o desmatamento na Amazônia. A meta do programa é reduzir em 80% o desmatamento na região nas próximas duas décadas.
Lula voltou a cobrar empenho dos países ricos, mas deixou claro que países em desenvolvimento como o Brasil também precisarão agir. "Todos os países devem empenhar-se em realizar ações para reverter o aquecimento global." Num jantar que reuniu líderes mundiais na ONU na terça-feira, Lula disse que todos deveriam apresentar em Copenhague "o mesmo nível de ambição" e prometeu que a proposta do Brasil representará um "desvio significativo de nossa trajetória normal de emissões", de acordo com as notas preparadas para orientar o discurso que ele pretendia fazer no evento, e que não foi divulgado depois.
O Brasil e outros países emergentes sempre resistiram a aceitar limites para suas emissões de gases-estufa, por temer que restrições desse tipo travem seu desenvolvimento e por achar que o esforço maior para conter o aquecimento global deve ser feito pelos países mais avançados, os principais responsáveis pelo agravamento do problema no passado.
Na última vez em que falou sobre o tema na ONU, em 2007, Lula disse que os países mais avançados deveriam "dar o exemplo" e que países como o Brasil só deveriam prestar contas de suas ações "diante de suas próprias populações", sem se comprometer com obrigações impostas por tratados internacionais, como o que será discutido em Copenhague. Nos últimos dias, a China e a Índia também indicaram que estão se preparando para adotar posições mais flexíveis nas negociações climáticas, aceitando algum tipo de compromisso com os países avançados. A China e a Índia dependem muito de carvão e outras fontes de energia poluentes e nos últimos anos se tornaram grandes emissores de gases-estufa.
Em seu discurso na ONU, logo depois do de Lula, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse reconhecer "a necessidade de respostas diferenciadas", de acordo com o estágio de desenvolvimento de cada país, mas afirmou que os países emergentes que se tornaram grandes poluidores "podem fazer mais para reduzir emissões sem inibir o seu crescimento".
Lula afirmou que a exploração das grandes reservas de petróleo encontradas na camada pré-sal na Bacia de Santos levará o Brasil à "vanguarda da produção de combustíveis fósseis", mas acrescentou que o país "não renunciará à agenda ambiental para ser apenas um gigante do petróleo".
(Por Ricardo Balthazar, Valor Econômico, 24/09/2009)