O memorando de intenções fechado essa semana entre a Fibria (empresa resultante da soma dos ativos da Aracruz e da VCP) e a chilena Compañía Manufacturera de Papeles y Cartones (CMPC), sediada em Santiago, evidencia que as negociações para a venda da unidade de Guaíba estão bem adiantadas. A transação engloba uma fábrica de celulose com capacidade de produção de aproximadamente 450 mil toneladas anuais, uma fábrica de papel com capacidade produtiva de cerca de 60 mil toneladas por ano, terrenos com uma área de 212 mil hectares (dos quais 32 mil hectares compreendem áreas arrendadas, em parceria ou de fomento) e mais licenças e autorizações para a execução de um projeto de expansão da fábrica de celulose. O preço da transação objeto do memorando é de US$ 1,430 bilhão. Ontem, as ações ON da Aracruz (ainda negociadas em separado) caíram 2,67%.
Em Guaíba, a prefeitura acompanha o avanço da negociação com preocupação. Responsável por 35% da arrecadação do município - que tem previsão de fechar 2009 com um total de R$ 100 milhões em receitas - a Fibria tem uma importância local estratégica para a economia. “Estamos apreensivos e esperamos que os novos empreendedores retomem o projeto de expansão”, comenta o secretário de governo da cidade, Paulo Scalco.
A ampliação vai elevar a capacidade de produção anual da companhia para cerca de 1,8 milhão de toneladas. O projeto original de investimentos é de R$ 5 bilhões.
A viabilização dessa ampliação envolve como contrapartida do município de Guaíba melhorias no processo viário e 120 desapropriações. O investimento do município ficará em torno de R$ 40 milhões. Cerca de 12% do desse processo já está executado. Scalco acredita que, caso a negociação com o grupo chileno seja confirmada e a ampliação mantida, os reflexos podem ser a ampliação da cadeia de celulose. “Seria uma alternativa bem interessante se pudessem ser desenvolvidas outras atividades que hoje a Fibria não tem como foco, como o segmento de laminados”, acrescenta. A CMPC é uma indústria florestal integrada e opera como uma holding através de cinco centros de negócios: florestal, celulose, papel, tecidos e produtos de papel.
Os executivos da Fibria e da CMPC já iniciaram as tratativas. O documento assinado entre as duas corporações confere exclusividade à companhia pelo prazo de 90 dias ou até que as partes firmem os instrumentos que consubstanciem a negociação. “Qualquer evolução significativa derivada do processo de negociação será comunicada”, diz a nota enviada ao mercado assinada pela Aracruz.
Alienação deve ser concluída nas próximas semanas
Em comunicado enviado ontem à Bolsa de Valores do Chile, a CMPC informou que a negociação deverá ser concluída nas “próximas semanas”. Segundo a empresa, o acordo, ainda sujeito a ajustes, deve ser finalizado em dezembro.
A operação tornará a CMPC a terceira maior fabricante mundial de celulose de fibra curta, atrás da Fibria e da também chilena Arauco. Com a adição da capacidade da fábrica de celulose de Guaíba, de 450 mil toneladas anuais, a oferta mundial da CMPC se aproximará de 2,3 milhões de toneladas por ano, enquanto a capacidade da Fibria seria reduzida para aproximadamente 5,4 milhões de toneladas anuais. A Arauco produz atualmente cerca de 3,2 milhões de toneladas por ano.
Em abril deste ano, a CMPC comprou as operações no Brasil da Melhoramentos Papéis, fabricante de papéis descartáveis, também conhecidos como tissue, como os guardanapos Lips, os papéis-toalha Kitchen e os lenços Softy’s e os papéis higiênicos Sublime. O valor da transação foi de aproximadamente R$ 120 milhões.
Para analistas, a venda do complexo de Guaíba pode acelerar o projeto de expansão da Fibria. A avaliação é que o negócio resultará em queda significativa do nível de endividamento da nova companhia e, com isso, a Fibria poderá rever seu atual plano de crescimento. “A princípio havia uma previsão de que o primeiro projeto de expansão da companhia poderia entrar em operação em 2013, mas agora já acredito que esse cronograma poderá ser antecipado”, afirmou Felipe Ruppenthal, analista do Banco Geração Futuro de Investimentos.
O projeto mais viável para sair do papel, segundo ele, seria a construção de uma segunda linha de produção de celulose no complexo construído em Três Lagoas (MS), cuja primeira fábrica entrou em operação no primeiro trimestre deste ano. A revisão do cronograma de expansão seria possível graças à redução do nível de endividamento da Fibria, que encerrou o primeiro semestre com dívida líquida de R$ 13,4 bilhões - considerando os dados de Aracruz e VCP no período.
(JC/RS, 24/09/2009)