Participação do Grupo Eletrobrás será bem maior, diz Edison Lobão
O governo federal deverá bancar boa parte da construção da Hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu, no Pará. Segundo o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, o Grupo Eletrobrás vai entrar com entre 40% e 49%, bem acima do verificado nas usinas do Rio Madeira. "A participação da estatal será grande. Não definimos ainda um modelo, se cada estatal entrará em um consórcio ou se todas participam de apenas um grupo. Mas será uma presença considerável", disse Lobão, após evento da Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), em São Paulo, para discutir as características do projeto.
Segundo ele, as regras serão conhecidas com a divulgação do edital, ainda sem data. Além da Eletrobrás, Belo Monte, que terá potência de 11.233 Megawatts (MW), também deverá contar com participação de fundos de pensão, segundo o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim.
A presença mais forte do Estado na obra não causou preocupação aos investidores. Para eles, essa é a forma de tornar viável a usina, que será o maior desafio de engenharia do País. "Era o que se esperava da Eletrobrás num empreendimento dessa magnitude, que envolve riscos elevados para o investidor", destacou o superintendente de energia da Odebrecht, Augusto Roque.
O que mais causou burburinho na plateia de mais de 400 empresários e especialistas do setor foi o valor de investimento da usina, anunciado ontem. Segundo a EPE, a hidrelétrica custará R$ 16 bilhões (ou R$ 21 bilhões se considerados os juros durante a construção). Para as construtoras, o valor está muito subestimado.
De acordo com Roque, os estudos das construtoras apontam para algo próximo de R$ 30 bilhões. O executivo explica que Belo Monte tem características bem diferente de tudo que já foi licitado no Brasil. Durante a construção da usina, as empresas não terão base de apoio, já que a cidade mais próxima fica a 60 km de distância e não tem capacidade para acomodar 20 mil trabalhadores. "Teremos de construir alojamento para todo esse contingente."
Além disso, a logística deve encarecer os materiais usados na construção, completa o diretor da Camargo Corrêa, Marcelo Bisoldi, que também calcula em R$ 30 bilhões o custo da usina. Para se ter ideia do tamanho de Belo Monte, a construção dos dois canais que ligam o lago secundário ao principal da usina se iguala a construção do segundo acesso do Canal do Panamá. As escavações no local serão superiores à soma de tudo que já foi feito por todas as usinas licitadas no País nos últimos 20 anos.
Para Tolmasquim, a discussão em torno dos investimentos é um processo natural "de choro" dos interessados. "Isso ocorreu no processo de licitação das hidrelétricas do Rio Madeira. No fim, eles apresentarem deságios mais agressivos do que imaginávamos para levar as usinas." Segundo ele, o governo trabalha com até dois grupos na disputa, previsto para ocorrer até o fim deste ano.
Os empresários, no entanto, acham que o prazo está apertado para resolver todos os problemas que ainda estão no meio do caminho. As licenças ambientais ainda não foram liberadas, o Tribunal de Contas da União (TCU) não terminou sua avaliação sobre os estudos e o Ministério Público quer exigir novas audiências públicas no local. Alguns acreditam que o leilão fique para o ano que vem.
(Por Renée Pereira, O Estado de S. Paulo, 23/09/2009)