A Exxon Mobil, uma das maiores companhias de petróleo do mundo, fez nesta semana um esforço para se aproximar do governo brasileiro e tentar aumentar sua capacidade de influir nos rumos da discussão sobre o modelo de exploração que será adotado nos novos campos de petróleo do pré-sal.
A empresa americana contribuiu com US$ 200 mil dos US$ 726 mil arrecadados pelos organizadores de um jantar em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi homenageado na segunda-feira, em Nova York. O evento foi promovido pelo Wilson Center, um centro de estudos sediado em Washington.
A contribuição garantiu ao executivo-chefe da companhia, Rex Tillerson, o privilégio de uma conversa particular com o presidente antes do jantar. O encontro durou 15 minutos e foi acompanhado por assessores de Lula e pela presidente da Esso, subsidiária da Exxon no Brasil, Carla Lacerda.
Tillerson lembrou que a empresa iniciou suas atividades no Brasil há quase um século e disse a Lula que pretende continuar investindo no país. O presidente respondeu dizendo que multinacionais como a Exxon nunca tiveram oportunidades tão boas como as criadas pela descoberta do pré-sal, segundo o relato feito por um assessor do presidente para o Valor.
A Esso é a operadora de um bloco promissor na área do pré-sal, onde é sócia da Petrobras e de outra companhia americana, a Hess. A empresa ganhou o direito de explorar esse bloco antes da descoberta do pré-sal e ele não será afetado pelas mudanças no modelo de exploração do setor. A companhia anunciou no início do ano ter encontrado petróleo ao perfurar na área um poço conhecido como Azulão, alimentando no mercado a expectativa de que o bloco guardaria depósitos significativos. Mas um poço perfurado recentemente em outro prospecto na área não encontrou nada.
Na conversa com Lula, Tillerson elogiou a decisão do governo de não mexer nos contratos de concessão antigos e não fez nenhuma menção às críticas que representantes da Exxon e de outras companhias estrangeiras têm feito ao novo modelo proposto pelo governo, conforme o relato do assessor de Lula.
A empresa tem procurado atuar com discrição e sem entrar em confronto com o governo, segundo duas pessoas familiarizadas com sua estratégia. Tillerson foi pessoalmente ao Brasil quando o novo modelo de exploração ainda estava sendo discutido no governo e preferiu não procurar diretamente nenhuma autoridade, disse uma dessas pessoas.
Além da Exxon, outros grupos interessados em se aproximar do governo fizeram contribuições para o Wilson Center, que mantém um instituto dedicado a estudos sobre o país. O grupo EBX, do empresário Eike Batista, que também está de olho no pré-sal, deu US$ 200 mil. O banco Credit Suisse pingou US$ 50 mil, a União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica) entrou com US$ 25 mil e a Boeing deu US$ 15 mil.
(Por Ricardo Balthazar, Valor Econômico, 23/09/2009)