Quando os eleitores alemães forem às urnas, no domingo (27/09), estarão decidindo o futuro da energia nuclear no país. Em sua campanha, a premiê alemã, Angela Merkel, está empenhada em reverter a decisão de abandonar gradualmente a energia nuclear até 2021, caso vença uma coalizão de centro-direita. Energia nuclear é um dos principais temas nos quais a eleição poderá gerar mudanças de políticas em Berlim, mas revelações surgidas dias antes das eleições puseram a premiê na defensiva.
Pesquisas de intenção de voto sugerem que os desfechos mais prováveis das eleições conduzem ou à opção preferida de Merkel, uma aliança entre a sua União Democrata Cristã (CDU) e os liberais do FDP , ou à manutenção da atual "grande coalizão" entre a CDU e os social-democratas (SPD). Uma continuidade da aliança CDU-SPD, no poder desde 2005, implicaria a manutenção dos planos de desativação gradual da energia nuclear, decidida pelo governo anterior, social-democrata.
Nos últimos dias da campanha, revelações "radioativas" provocaram mais ousadia de grupos de pressão antinuclear e obrigaram Merkel a defender seu plano de prolongar a vida útil das 17 usinas nucleares alemãs. O SPD aproveitou notícias de que o Ministério da Economia, controlado pelos conservadores, tinha encomendado pesquisas sobre a segurança de tipos modernos de reatores nucleares. Sigmar Gabriel, ministro do Ambiente (do SPD), e os Verdes afirmaram que isso prova que o CDU avalia a construção de mais usinas nucleares.
"Já deixamos claro: não queremos novas usinas nucleares. Não conheço ninguém [na CDU] que defenda essa ideia", disse Merkel. A decisão de abandonar a energia nuclear, tomada em 2000 pelo governo de Gerhard Schröder, coloca os alemães na contra-mão de grande parte da Europa, onde países como o Reino Unido, a Suécia e a Itália superaram a hostilidade e estão planejando enormes investimentos em novos reatores.
Embora Merkel descarte a construção de novos usinas, ela considera a energia nuclear como uma "tecnologia ponte", capaz de manter acesas as luzes na Alemanha até que fontes renováveis tenham condições de compensar a sua perda. Cerca de 25% da eletricidade alemã vem da geração nuclear. Entretanto, a maioria da população se diz favorável ao abandono gradual da opção nuclear, com apoio do SPD, dos Verdes e do Partido da Esquerda.
Em outro episódio embaraçoso para Merkel, Annette Schavan, ministra de Educação e Pesquisas, da CDU, foi acusada de tentar sustar até após as eleições a divulgação de um estudo defendendo a construção de mais usinas elétricas nucleares. Um porta-voz de Schavan negou ter havido um encobrimento do relatório, dizendo que o documento simplesmente lista opções, e que os cerca de cem cientistas que haviam redigido o estudo não desejavam que fosse publicado antes da eleição.
A discussão irrompeu apenas dias depois de Merkel ter anunciado uma investigação sobre acusações de que o governo do premiê conservador Helmut Kohl manipulou um estudo científico para minimizar os riscos de um plano de instalação para armazenagem de lixo nuclear.
(Por Chris Bryant, Financial Times / Valor Econômico, 23/09/2009)