A proibição ao plantio de cana-de-açúcar na chamada Bacia do Alto Paraguai, região contígua ao Pantanal, levou o governador de Mato Grosso do Sul, André Puccinelli, a ofender publicamente o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, durante evento em Campo Grande. Ainda irritado com a veto à cana nesta área de 18 milhões de hectares, anunciado na quinta-feira (17/09), Puccinelli insultou Minc, chamando-o de "veado fumador de maconha" e ameaçou o ministro de "estupro" em praça pública caso ele visite o Estado.
"Ele é um veado fumador de maconha. Assumo que falei isso mesmo", disse, em reunião em seu gabinete. "O Minc fumou e disse que o projeto de zoneamento apresentado estava incorreto. A WWF-Brasil e a ONG Ecoa são favoráveis a nós". Em seguida, provocado por empresários presentes sobre eventual participação de Minc em uma maratona que ocorrerá em Campo Grande, em outubro, foi além: "Ele vai ganhar. Porque senão eu o alcançaria e ele seria estuprado em praça pública".
O ministro reagiu de forma imediata. Divulgou nota em que classifica Puccinelli como "truculento que quer destruir o Pantanal com a plantação de cana". Depois, em entrevista ao Valor, o Minc disse estar "chocado" com o "surto" do governador. "É inacreditável esse linguajar. Fiquei tão chocado, é tão agressivo que depõe contra o caráter dele", disse. "Ele não só ajuda a detonar o Pantanal como mostra um desequilíbrio patológico. E demonstra uma visão especial dele sobre o homossexualismo. Revela o homossexualismo dele ao querer me estuprar em praça pública", rebateu.
Minc contou que, em meio às negociações para a proibição do plantio de cana na porção norte do Estado, telefonou ao governador para propor um acordo. "Há dois meses, liguei para ele e disse que o Estado teria 9 milhões de hectares de áreas aptas e que garantia 1 milhão de hectares na bacia", informou Minc. "Ele disse que ia pensar, que tinha empresários que compraram terra e fizeram infraestrutura na bacia", afirmou. "Mas ele disse que ia pensar e perguntou se eu garantia a área de 1 milhão de hectares. Disse que sim e ele falou que era razoável, que ia estudar. Agora, surtou completamente". O zoneamento agroecológico da cana recomendou o plantio da gramínea em 10,8 milhões de hectares, considerados como "aptos". O território total de Mato Grosso do Sul soma 35,7 milhões de hectares.
Diante da repercussão de suas declarações, o governador divulgou nota para tentar contornar o mal-estar. Mais tarde, recuou de suas afirmações em entrevista em seu gabinete. "O governo do Estado de Mato Grosso do Sul (...) lamenta a conotação de ofensa atribuída às declarações, pois foram feitas em ambiente diverso", escreveu. "Antecipando-se a qualquer outra conotação, esclarece que as críticas restringem-se ao ambiente do debate técnico e político dos assuntos que dizem respeito aos interesses de Mato Grosso do Sul e ao Ministério do Meio Ambiente".
Em seguida, retifica o tom das declarações: "Quaisquer outros desdobramentos devem ser entendidos como inapropriados e, na hipótese de terem gerado ofensa ao ministro, o governador do Estado de Mato Grosso do Sul apresenta seu pedido de desculpas".
(Por Mauro Zanatta, Valor Econômico, 23/09/2009)