A implantação da indústria de biocombustíveis BSBios possibilitou um salto na área plantada e na produtividade da região de Passo Fundo. Em quatro anos, a produção de canola passou de zero para 10 mil hectares, diversificando o perfil agrícola. No ano passado, foram fabricados 90 milhões de litros de biodiesel pela usina.
Até o final de 2009, a empresa pretende produzir 115 milhões de litros, o que equivale a cerca de 75% da capacidade autorizada pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), de 159 milhões de litros. Os investimentos feitos no Rio Grande do Sul abrem uma nova perspectiva de oferta do produto para um mercado em franca expansão. A partir de 2010, entra em vigor o B5, a mistura de 5% de biodiesel no diesel.
– Temos um mercado ilimitado, baseado no número de empresas autorizadas a produzir biodiesel e em novos projetos para a região, comparando a capacidade produtiva ao consumo do produto no Estado e já considerando o mercado de B5 para 2010 – afirma o superintendente da BSBios, Erasmo Carlos Battistella.
Segundo estimativas da empresa, cerca de 20 mil famílias gaúchas, direta ou indiretamente, fornecem matéria-prima para a usina. No Rio Grande do Sul, o percentual de produtores da agricultura familiar é expressivo.
– Acreditamos que 50% dessas famílias sejam de pequenos produtores – diz Batistella.
A matéria-prima da BSBios é a soja, principalmente por causa do volume de grãos disponíveis – são cerca de 4,5 milhões de hectares plantados anualmente no Estado –, da liquidez de mercado e da grande quantidade de produto final, o biodiesel. Em todo o Brasil, a soja representa 85% da fonte do biocombustível, sendo o restante composto por gorduras animais, óleos reciclados e uma pequena parte de óleos de culturas alternativas.
A indústria tem programas de incentivo a culturas alternativas. A partir deste ano, como segunda matéria-prima, a canola será a alternativa à soja. Atualmente, 10 mil hectares de canola são dedicados à produção de biodiesel, plantados por redes de cooperativas. Outras plantas, como mamona e girassol, ainda carecem de maior credibilidade por parte dos produtores.
– A canola é a melhor alternativa porque não concorre com a soja, nossa principal cultura – explica o superintendente da BSBios.
Os grãos de canola produzidos no país têm 38% de óleo, segundo informações da Embrapa/Trigo, de Passo Fundo. A soja tem 18%. Além disso, como biocombustível, é possível aproveitar os grãos que não tem excelente qualidade para a venda.
Outro ponto a favor é que a canola constitui a terceira maior commoditie do mundo, responsável por 16% da produção de óleos vegetais. Estima-se em 2 milhões de hectares a área anteriormente utilizada pelo trigo no Estado e agora disponível para as lavouras de canola.
Parceiro que compra sempre
O produtor Jair Dutra Rodrigues começou a plantar canola em 2006, antes mesmo de pensar numa parceria com a BSBios. Depois do acordo fechado há dois anos com a usina, a lavoura da oleaginosa de inverno chegou a 60 hectares.
– Esta parceria é muito importante porque garante a venda da minha produção – explica Rodrigues.
Ele estima que cerca de 200 produtores estejam plantando canola na área de abrangência da BSBios, como diversificação do plantio de inverno. Por ser uma cultura com baixo custo de produção, é considerada mais rentável que outras lavouras da estação.
Como presidente do Sindicato Rural de Passo Fundo, Rodrigues incentiva outros fazendeiros a adotar o cultivo da canola. Ele acredita que todos estarão participando da “revolução do biocombustível”.
– Nós somos os grandes consumidores deste produto. Lembrando ainda que estamos ajudando a natureza, utilizando um combustível que polui menos – diz o produtor.
(Zero Hora, 23/09/2009)