A China comprometeu-se na Organização das Nações Unidas (ONU), nesta terça-feira (22/09), a reduzir a importância do carbono no crescimento de sua economia e a desenvolver outras medidas "ambiciosas" para reduzir as emissões de gases estufa até 2020.
Em discurso na cúpula da ONU sobre alterações climáticas, que acontece em Nova York antecipando a Assembleia-geral das Nações Unidas, o presidente chinês, Hu Jintao, realçou o compromisso de Pequim no combate às alterações climáticas, comprometendo-se a reduzir "significativamente" as emissões até 2020 em relação aos níveis de 2005.
Num dos discursos mais aguardados do dia, assim como o de Barack Obama, o chefe de Estado chinês assegurou que a China vai desenvolver "passos práticos e determinados" para incentivar a energia nuclear, melhorar a eficiência energética através da aposta nas energias renováveis e reduzir "por uma margem notável" a importância do carbono no crescimento econômico do país.
Peso
Entretanto, Jintao ressaltou que não pode ser pedido às nações em desenvolvimento que "assumam obrigações que ultrapassem o seu estado de desenvolvimento". Atualmente, a China é o principal emissor de gases estufa, à frente dos Estados Unidos. As duas nações são responsáveis por 40% das emissões globais de dióxido de carbono.
Numa reação as declarações de Jintao, o enviado especial norte-americano para as alterações climáticas mostrou-se cauteloso e lembrou que "tudo depende da amplitude" das medidas que o agora maior emissor de GEE quer aplicar.
Já o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, declarou estar determinado a agir contra o aquecimento global, mas reconheceu que o mais difícil ainda está por fazer até à cúpula em Copenhague, onde a comunidade internacional tentará carimbar um novo acordo climático pós-Kyoto.
"A ameaça das mudanças climáticas é séria, é urgente e aumenta. E o tempo que temos para contrariar a maré esta a acabar", destacou, pedindo a países emergentes como a China e a Índia que façam também sua parte e adotem ações vigorosas contra o aquecimento global.
Se a comunidade internacional não agir de forma "audaciosa, rápida e em conjunto", as gerações futuras caminham para "uma catástrofe irreversível", advertiu Obama, reiterando o compromisso dos EUA de cumprir as suas "responsabilidades em relação às gerações futuras".
Fracasso
Ao inaugurar a reunião preparatória em Nova York, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, considerou perante cerca de uma centena de chefes de Estado e de governo que um fracasso da cúpula de Copenhague seria "moralmente indesculpável, de vistas-curtas em termos econômicos e politicamente mal-avisado".
Ki-moon lembrou que "as alterações climáticas são a questão dominante da geopolítica e economia mundiais do século 21, uma questão que afeta a equação mundial do desenvolvimento, da paz e da prosperidade".
As negociações para Copenhague continuam num impasse, pois os países desenvolvidos não assumem compromissos significativos de corte de emissões, enquanto os países pobres e em desenvolvimento recusam aceitar limites de emissões, alegando que tal prejudicaria seu desenvolvimento econômico.
Com ainda três semanas de negociação pela frente, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, criticou o atual impasse. "Estamos no caminho do fracasso se continuarmos a atuar como o temos vindo a fazer", frisou.
Uma crítica também expressa pelo presidente do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) e Prêmio Nobel da Paz em 2007, Rajendra Pachauri, afirmando que "a ciência já não permite o luxo de não fazermos nada".
A menos de três meses da reunião de Copenhague, que acontecerá entre 7 e 18 de dezembro, cresce a pressão para limitar as emissões dos gases estufa, com os EUA no centro das atenções e alvo de críticas pela lentidão do Congresso norte-americano em agir.
Os europeus já decidiram reduzir em 20% as emissões poluentes até 2020, em relação aos níveis de 1990. Em sua cúpula de julho, numa declaração conjunta o G8 também prometeu reduzir as suas emissões de gases com efeito de estufa em 80% até 2050.
Com isso, a reunião sobre o clima foi convocada por Ban Ki-moon numa tentativa de dar novo impulso político ao processo de preparação de um novo acordo global, com compromissos específicos de redução de emissões.
(Lusa, UOL, 22/09/2009)