O diretor da agência da ONU responsável por questões relativas a mudanças climáticas disse nesta segunda (21/09) acreditar que a China será "líder mundial" no combate a mudanças climáticas a partir de hoje, quando Hu Jintao, o presidente chinês, discursar na minicúpula climática em Nova York. Hu deve anunciar medidas que "desviarão significativamente as emissões chineses" do patamar atual e do níveis previstos para o futuro, disse Yvo de Boer. Será "bastante irônico", acrescentou ele, ouvir tal declaração "num país [os EUA] que estão firmemente convencidos de que a China nada está fazendo para combater as mudanças climáticas".
Os líderes mundiais estarão prestando atenção para ver se Hu fará referência à denominada "meta de intensidade de carbono" em seu discurso. Uma meta assim comprometeria a China, maior emissora mundial de carbono, a reduzir a quantidade de gases causadores do efeito estufa que produz para cada unidade de renda nacional e estimularia a migração mais rápida rumo a fontes energéticas alternativas. Mas permitiria ao país evitar assumir metas obrigatórias de redução de emissões, que prejudicariam o seu desenvolvimento industrial.
A posição chinesa é considerada como crucial para o êxito dos esforços visando selar um acordo sobre mudanças climáticas, que será negociado Copenhague ainda neste ano. "Se eles [os chineses] assumirem uma meta de intensidade de emissão de carbono, isso seria um grande avanço", disse ontem Ed Miliband, ministro de Energia britânico, em New York.
Com sua presença em Nova York, Hu será o primeiro presidente chinês a participar de uma sessão da Assembleia Geral da ONU. Diplomatas chineses esperam que, se anunciarem suas próprias metas ousadas de uso mais eficaz de energia e outras medidas para incrementar o uso de fontes renováveis, sofrerão menores pressões em Copenhague para firmar compromissos de metas obrigatórias de cortes nas emissões, algo que, até agora, rejeitam.
A China já se comprometeu a melhorar em 20% a eficiência energética entre 2006 e 2010, e autoridades disseram que a meta para o período seguinte de cinco anos será ainda mais ambiciosa.
De Boer disse ontem ser "absolutamente essencial" que China e EUA, os maiores poluidores, reduzam suas emissões, mas admitiu que ambos têm obstáculos políticos a transpor. "Hu detalhará suas políticas no contexto do plano quinquenal [chinês, para 2011-15]", disse De Boer, acrescentando que uma postura positiva do presidente chinês ajudaria o presidente americano, Barack Obama, a superar a resistência interna a medidas contra o aquecimento mundial.
A Câmara dos Deputados dos EUA aprovou um projeto de lei contra as mudanças climáticas, mas a discussão no Senado foi adiada devido ao debate sobre a reforma do sistema de saúde. Em maio, José Manuel Barroso, presidente da Comissão Europeia (CE), saudou o aparente progresso americano no corte de emissões de veículos, com o intuito de buscar induzir a China e seu premiê, Wen Jiabao, a se engajar no combate ao aquecimento mundial.
À época, China e Índia eram vistas como os países que mais provavelmente resistiriam a assumir compromissos de redução nas emissões de gases-estufa. Hoje, à medida que se intensificam os esforços visando um acordo mundial sobre o clima, as autoridade em Bruxelas estão fazendo uma reavaliação surpreendente: são os EUA - mais do que a China - o obstáculo a um acordo.
Até agora, os europeus vêm contendo as críticas a Obama, temendo que isso possa provocar uma reação adversa exatamente no momento em que o presidente tenta convencer a opinião pública americana cética sobre a necessidade de combater o aquecimento mundial. Mas, em vista da proximidade da cúpula de Copenhague, em dezembro, pelo menos algumas autoridades acreditam que já é hora de aplicar mais pressão publicamente.
(Por Harvey Morris, Geoff Dyer e Fiona Harvey, Financial Times / Valor Econômico, 22/09/2009)