O presidente Bharrat Jagdeo quer transformar a Guiana em um dos países ambientalmente mais progressistas do mundo ao preservar vastas extensões da sua floresta tropical --desde que as nações ricas paguem por isso. Em entrevista à Reuters, Jagdeo disse que, como parte da prevenção à mudança climática, poderia determinar a manutenção de cerca de 15 milhões de hectares de matas ainda quase intactas no pequeno país ao norte do Brasil, mediante o recebimento de uma quantia anual de até 580 milhões de dólares.
"Podemos gerar dinheiro com a preservação das florestas, podemos usar esses recursos para investir em oportunidades de baixo (grau de emissões de) carbono, e podemos usar parte desse dinheiro para tornar nossa economia resistente à (mudança) climática", disse Jagdeo, que na terça-feira participa de uma cúpula climática na sede da Organização das Nações Unidas (ONU).
Ele lembrou que a destruição das florestas tropicais provoca mais emissões de dióxido de carbono do que todas as emissões de carros, caminhões, aviões e trens do mundo.
A Guiana tem menos de 1 milhão de habitantes, dos quais 90 por cento vivem no litoral. Jagdeo disse que o governo terá de construir muros para proteger essa área mais habitada da elevação do nível do mar, um dos efeitos mais notáveis do aquecimento global.
Na opinião dele, o modelo guianense de preservação poderia ser copiado por outros países e incorporado ao acordo climático que deve ser aprovado em dezembro em uma reunião da ONU em Copenhague, na Dinamarca.
"Até Copenhague, podemos mostrar um verdadeiro modelo de país em funcionamento que trate de todas as questões que nos deparamos nas negociações", afirmou.
Mas o maior entrave ao modelo proposto por ele, segundo Jagdeo, é convencer os países ricos de que o dinheiro será usado de modo transparente, e persuadir os governos dos países pobres a abrirem mão da sua soberania quando decidirem reservar enormes áreas para a conservação.
O Brasil, que tem a maior floresta tropical das Américas, tradicionalmente é muito sensível a violações da sua soberania sobre a Amazônia, e resiste à adoção de regras externas relativas à preservação.
Os 190 países que participam das negociações para a reunião de Copenhague ainda precisam definir os graus de redução das emissões de gases do efeito estufa a serem cumpridos até 2020 por países ricos e pobres, além de formas de financiamento e transferência de tecnologia para combater o aquecimento e adaptar o mundo às mudanças climáticas, o que talvez exija um gasto de até 100 bilhões de dólares por ano.
(Por Terry Wade, Reuters, UOL, 21/09/2009)